A culpa é sempre dos impostos? Será?
Eliseu Eduardo Ely
Nos meus trabalhos de consultoria juntamente aos pequenos negócios, me deparo constantemente com uma afirmação por parte dos empreendedores e empresários com a seguinte colocação: Minha empresa trabalha para pagar impostos ao governo.
Recentemente fiz uma visita a um lojista e fiz algumas perguntas iniciais a ele. Como estão seus negócios? Está vendendo bem? Está conseguindo conquistar novos clientes? Pasmem qual foi a resposta direta que ele me fez: o senhor não sabe que trabalhamos somente para pagar impostos! Eu esperava que ele respondesse as perguntas formuladas por mim. Será que temos apenas essa resposta para explicar e/ou justificar o nosso eventual mau desempenho operacional do negócio? Certamente muitos empresários dizem isso no dia-dia dos seus negócios esquecendo que temos muitas ações a serem feitas e/ou a implementar para elevar nossa performance em termos de resultados.
Alegar que os resultados não acontecem na empresa por conta dos impostos a serem pagos é no mínimo pouco razoável e sem sentido além de não se sustentar como justificativa. Abaixo apresento algumas situações que ocorrem na empresa que causam maiores estragos e prejuízos monetários muito além do valor pago a título de impostos.
Vamos ver algumas situações que precisam de atenção especial das empresas pois são fatores que afetam o resultado do negócio e que na maioria dos casos, não são medidos e/ou não sabem calculá-los:
Fatores |
Algumas Causas |
Alguns Impactos diretos |
Rotatividade de pessoal |
Liderança ruim, salário abaixo do mercado, ambiente ruim |
Custos com pagamento de indenização, custos com recrutamento, custos com retreinamento, encargos sociais recolhidos a mais por conta das rescisões... |
Produtividade baixa |
Colaboradores não treinados, ausência de processos formais, condições de trabalho inadequadas, desmotivação da equipe |
Prazo de entrega não cumprido, cancelamento de pedido por conta do atraso, retrabalho,qualidade deficiente |
Retrabalho |
Comunicação ruim, máquinas e equipamentos sem manutenção preventiva, processos informais para produzir, |
Aumento de horas extras, perda de clientes, atraso na entrega, baixa eficiência, reduz lucro |
Desperdícios |
Ausência de conscientização do colaborador no uso, falta comprometimento no uso, procedimentos desnecessários, processos não formalizados, manuseios involuntários, ociosidade, layout inadequado, uso inadequado dos recursos... |
Perda financeira, compras a mais, necessidade maior de recurso financeiro, maior necessidade de estoque, horas não trabalhadas, horas produtivas sendo utilizadas para fazer a movimentação interna inadequada... |
Preço de Venda errado |
Desinformação sobre a metodologia do cálculo, incidências não apuradas corretamente... |
Perda de dinheiro, fluxo de caixa negativo, perda de capital de giro... |
Utilização rotineira do limite do cheque especial e de empréstimos |
Despesas não controladas, inadimplência, falta planejamento financeiro... |
Ausência de capital de giro, atrasos de pagamentos de fornecedores e salários... |
Inadimplência alta |
Ausência de análise de crédito mais apurada,vender por vender |
Falta capital de giro, custos e despesas envolvidas para cobrar... |
E ai, esses fatores são medidos e gerenciados internamente pela empresa? Sua empresa sabe medi-los tecnicamente? Quanto custa mensalmente esses fatores em termos financeiros? Você relaciona esses fatores e sabe qual o impacto % sobre a receita de vendas da empresa?
Quero desafiá-lo. Some os percentuais apurados destes fatores e outros, transforme-os financeiramente e some-os comparando-o com o valor do imposto recolhido pela empresa no mês.
Acredito que o imposto foi o menor valor. Outro aspecto a destacar é que o Imposto é uma despesa variável, ou seja, pago mais imposto se a empresa faturar mais, pago menos se a empresar faturar menos. Os fatores acima elencados e outros existentes que causam prejuízos mensais uma vez não atacados e corrigidos tendem a aumentar, provocando a descapitalização gradativa da empresa. Só para lembrar, no caso das pequenas empresas as mesmas são contempladas pelo recolhimento do Simples que acaba sendo um enorme benefício em termos de tributação.
Temos dentro das empresas muitos gastos financeiros desnecessários por falta de planejamento, acompanhamento efetivo no intuito de reduzir custos e despesas do que simplesmente atribuir aos maus desempenhos e a desorganização interna tendo como vilão apenas o Imposto.
É evidente e concordo que os impostos são elevados em função do retorno medíocre que a sociedade tem com a aplicação dos mesmos. Temos corrupção endêmica a qual precisa ser combatido permanentemente para que a sociedade receba pelo pagamento dos impostos que faz, serviços qualificados.
No caso dos impostos temos duas situações para serem analisadas e esquecidas:
- o peso dos impostos que reflete em toda a cadeia produtiva aumentando os custos dos insumos, matérias primas, produtos e serviços e preço final do produto e/ou serviço.
- a aplicação dos impostos arrecadados com a entrega de serviços públicos qualificados para a sociedade os quais todos devem cobrar e exigir.
É nisto que devemos concentrar nossas ações, atitudes e conscientização. O imposto é necessário para que toda a sociedade seja beneficiada com ele de forma excepcional.
Outro aspecto que vale a pena ressaltar e que comumente é esquecido por todos, é que a empresa é apenas repassadora dos impostos recolhidos em função do seu faturamento obtido pela venda de seus produtos e serviços. O imposto faz parte do cálculo da formação do preço de produtos e serviços da empresa. Ela cobra do consumidor. Como dizer que é alto o imposto se o mesmo é cobrado do cliente? Quem deveria ficar incomodado e furioso com o imposto é o seu cliente que paga por ele através do preço de venda de seus produtos e serviços.
E mais, temos que retirar o pano de fundo que está escrito IMPOSTO e se concentrar em fatores internos como os elencados acima que acabam deteriorando as finanças e os resultados da empresa e colocando em risco a sua perenidade.
Temos muito trabalho a ser feito dentro das organizações para buscar a eficiência e os ganhos financeiros através do envolvimento da equipe de trabalho e a mudança na gestão do negócio.
O imposto está ali paradinho. Você sabe qual é o % e o mesmo já está definido.
Agora, os fatores da ineficiência operacional do negócio eventualmente existentes precisam de atenção diária e rotineira de todos para que sejam evitados prejuízos quantitativos e qualitativos.
Recomendo que as empresas tenham mais informações e indicadores de desempenho de seu negócio devidamente apurados e gerenciados envolvendo a equipe de trabalho na construção de melhores resultados. Todos ganham com isso.
Esse pequeno artigo é apenas uma pequena reflexão e contribuição a cerca do tema do Imposto que não pode ser o "culpado" por todas as mazelas e desempenhos ruins que a empresa eventualmente tenha ou esteja passando no momento.
Quero deixar claro que não estou defendendo o governo pela alta carga tributária e sim um novo olhar sobre o tema. Temos dentro das empresas muitas perdas que superam de longe o valor recolhido de impostos. Pensem sobre isso. Temos muita coisa a fazer nas organizações, em termos de reorganização, processos melhores, eficiência, indicadores de desempenho, repaginar a gestão, aumentar a produtividade... cujos aspectos ficam em segundo plano muitas vezes para se concentrar apenas no tal do imposto a ser pago. E aí nada acontece internamente. O imposto por si só não aumenta a eficiência da empresa, mas, os fatores acima descritos e outros eventualmente existentes desde que não atacados e corrigidos podem levar a resultados pífios do negócio.
Então, como fica a resposta ao titulo do artigo a partir da leitura deste texto?
É o imposto ou temos muito trabalho a ser feito internamente?
* Eliseu Eduardo Ely é Consultor de Empresas / Palestrante
E-mail: telysconsultoria@gmail.com