A queda da rentabilidade na Indústria Gráfica
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Queremos hoje tratar de mais um assunto bastante sério. Nossas gráficas estão indo de mal a pior em grande parte dos nichos de mercado. Se analisarmos a indústria de manufaturados como um todo (englobando a indústria gráfica) veremos que há 30 anos esta indústria participava com 30% do PIB e em 2011 caiu para perto de 17%. A forte entrada de manufaturados, inclusive impressos importados, demonstra claramente de que não somos competitivos. Parte deste "embroglio" é sem dúvida causada por uma serie de problemas fiscais onde nosso governo tem reagido com medidas cosméticas.
Para a nossa associação de classe, o superávit registrado pela balança comercial brasileira em 2011 não reflete a realidade de setores como a indústria gráfica, que vem sofrendo reveses econômicos desde 2007. Segundo dados da Abigraf Nacional, o setor gráfico teve um saldo comercial negativo em US$ 269,54 milhões entre os meses de janeiro e novembro de 2011, déficit 46,3% maior que o do mesmo período de 2010. "Estamos amargando os efeitos da falta de competitividade causada pelo impacto absurdo do Custo Brasil", avalia o presidente da Abigraf, Fabio Arruda Mortara, referindo-se aos pesados encargos tributários e trabalhistas enfrentados pela indústria brasileira como um todo.
O avanço das importações chega também ao mercado de livros, principalmente ao de livros didáticos pois como sabemos algumas editoras especializadas neste segmento de livros, através do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) elevaram para quase 70% as encomendas no exterior, principalmente para a China, USA, Hong Kong, Reino Unido, Chile e vários outros países. Saibam vocês que o nosso governo responde pela compra de cerca de 4,5 bilhões de Reais na área de livros do Brasil o que representa quase ¼ da produção nacional de livros (Fonte: OESP/ABIGRAF).
Mas onde estará o problema? Será a baixa produtividade de nossas empresas gráficas, ou o custo não controlado dentro das empresas, a alta carga de impostos ou mesmo a falta de vendas? Temos de tudo um pouco. O empresário em primeiro lugar "chia" com o volume de encargos devidos ao governo, seja em termos de impostos sobre transações comerciais, seja sobre os altos encargos sobre a mão de obra. Eu diria que é um pouco de tudo. Falta à grande maioria dos empresários gráficos um Plano de Negócios para a sua empresa. Como ele não sabe por onde começar, ele continua fazendo o que sempre fez. Não procura uma consultoria, pois aos olhos dele é muito cara. - Estive lendo recentemente uma estatística de gráficas européias com relação às consultorias onde se perguntava a estas se já tinham procurado um consultor externo e qual tinha sido o resultado. 57% das gráficas consultadas tinham buscado ajuda com resultados positivos significativos. 29% das gráficas procuraram ajuda, sem grandes resultados e 14% não tinham procurado ajuda. O importante não é só buscar a ajuda de um consultor experiente, más principalmente seguir a sua orientação, pois senão seria a mesma coisa que deixar as coisas como estão.
Pergunto: Há quanto tempo o prezado colega não revê os seus custos? Com que ferramentas faz o seu pré-cálculo? (ainda é manual?) Após executado o trabalho, é feito o Pós-Cálculo de cada serviço para diagnosticar falhas ou inconsistências com o pré-cálculo? E como anda a sua produtividade? Temos muitas horas improdutivas? Damos atenção imediata a estas horas improdutivas? São tomadas ações preventivas para que tais fatos que causam estas horas improdutivas não aconteçam mais. Temos na empresa uma manutenção preventiva dos equipamentos? Qual a idade e produtividade de nossas máquinas? Os nossos operadores estão capacitados para extrair do equipamento o máximo de produtividade, dentro dos parâmetros de qualidade estabelecido?
Como vai o nosso Departamento Comercial? Viciado sempre nos mesmos clientes? Os profissionais de venda, bem como as metas a ser alcançadas são administrados? O nosso Gerente (ou Diretor) de Vendas traça planos de trabalho, metas de mercado, ações de Marketing? A equipe de atendimento ao cliente, seja interna ou externa é treinada tecnicamente? Existe comunicação instantânea entre estes elementos e o orçamentista e o PCP? A sua empresa têm PCP?
A tecnologia usada em sua empresa está atualizada para poder ser competitiva a custos mais baixos (Preço é um problema de mercado). Você se utiliza de redes sociais para fazer o seu trabalho comercial? Tem Site? Divulga este Site e o usa como ferramenta de trabalho? Como você treina os seus operadores e agregados? Existe um departamento de controle em sua empresa? Já aplicou o sistema 5S, ou ISO ou têm FSC? Já pensou em implantar em sua gráfica as Boas Práticas de Fabricação e Gestão (GMMP) que alguns clientes já estão exigindo?
Ahhhhh. Más tudo isso é muito caro e eu não tenho condições de implantar todas estas novidades. Em primeiro lugar, não são novidades. Depois existe o problema de se situar no mercado, ou desaparecer como que por encanto (como têm acontecido com dezenas de gráficas no Brasil a cada dia). A partir do momento em que você decide sobreviver, monte o seu Plano de Negócios e implante primeiramente Normas e Procedimentos em todos os setores de sua empresa. Você verá que o investimento terá um retorno rápido! Lembre-se: É um investimento e não um gasto!
Como diz o jornalista Celso Ming do Estadão em uma de suas colunas: "Como na história infantil, a ração vai diminuindo e, em vez de se acostumar com redução da comida, o burro vai morrendo de fome." Tenham um excelente 2012!
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)