A situação educacional de grande parte dos funcionários de nossas gráficas
Thomaz Caspary ( In memoriam )
A situação educacional de grande parte dos gráficos brasileiros decorre, em grande medida, da própria matriz histórica de formação da sociedade brasileira, assentada em profundas desigualdades e na consequente exclusão social, o que dificulta o acesso e a permanência de crianças e jovens nos sistemas de ensino.
Por outro lado, a oferta incipiente, em quantidade e/ou sem padrões mínimos de qualidade, nos diversos níveis e modalidades de ensino que integram a educação básica pública também contribui para a reprodução dessas desigualdades sociais. Desse modo, parcela considerável dos jovens ingressa nas empresas com elevada defasagem educacional, tanto do ponto de vista quantitativo (anos de estudo), quanto em termos qualitativos (capacidades e habilidades desenvolvidas).
Devo esclarecer que estou me referindo genericamente à maioria dos funcionários gráficos de chão de fábrica, naturalmente com exceções de alguns privilegiados que conseguem por esforço próprio, estudar em cursos específicos.
A despeito de a situação educação dos jovens estar aquém do desejado, foram observados avanços significativos ao longo da última década, seja por causa da atuação do SENAI, ou pelos seminários oferecidos pelas Abigraf's Regionais e pela ABTG. Mas, para que avanços futuros venham a ocorrer, e em ritmo mais acelerado, faz-se necessária a implementação de ações e medidas de política que promovam a redução das desigualdades, no âmbito dos sistemas de ensino nas diversas regiões deste nosso imenso país, que é significativamente maior no Nordeste e Norte, que nas demais regiões brasileiras.
Os elevados índices de reprovação e evasão escolar que têm marcado a trajetória de muitos jovens apontam para um grande desafio do sistema educacional brasileiro contemporâneo: como assegurar a conclusão da escolaridade básica de qualidade para todos, dadas as condições concretas atuais? Trata-se, portanto, de um desafio que pressupõe o rompimento de um círculo vicioso composto pelo binômio: exclusão social e escolaridade precária.
Neste sentido, assegurar a qualidade do ensino fundamental, particularmente no que se refere à efetividade dos processos de alfabetização nas séries iniciais, é crucial para se reduzir a incidência do analfabetismo entre jovens e para viabilizar a conclusão da educação básica a todos para em seguida abraçarem uma educação técnica, condizente com as necessidades de nossas empresas.
Por outro lado, a oferta insuficiente de cursos de educação profissional técnica é considerada como outro entrave à inserção social e profissional dos gráficos brasileiros. Segundo estimativas do próprio Ministério da Educação, pouco mais de 10% da demanda potencial estaria sendo atendida. Além de a oferta ser reduzida, esta também se encontra espacialmente concentrada. Para reverter ao menos parcialmente tal situação, está em curso a ampliação da rede federal de educação profissional e tecnológica.
Em síntese, mesmo reconhecendo que a situação educacional atual dos jovens gráficos brasileiros seja insuficiente para promover sua inserção plena nas empresas independentemente do momento de dificuldades pelos quais passamos, deve-se reconhecer o esforço que as nossas associações de classe em conjunto com os sindicatos patronais e o SENAI/SEBRAE tem atribuída certa prioridade no bojo de nossa política setorial, no que tange à ampliação e equalização das condições de acesso e permanência de uma boa formação em todos os níveis destinados a este nosso público-alvo.
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)