Como ficam as nossas gráficas, em sua maioria empresas familiares, com a entrada de novas gerações?
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Grande parte das gráficas que estão no mercado são empresas familiares que adotam a política de manter em seus quadros parentes como pais, irmãos, filhos e netos. Elas retêm o controle, de geração em geração, nas mãos dos seus, mas não raras vezes utilizando pessoas sem o perfil ou despreparadas para os cargos de direção e liderança que ocupam.
Conclusão: Maus resultados e lucros pouco animadores e até mesmo a bancarrota.
Existem vários casos de empresas familiares bem sucedidas, de igual ou menor porte, que são exemplos de empresas que alcançaram o sucesso empresarial, sem que para isso tivessem de abrir mão da manutenção de familiares em cargos estratégicos. Simplesmente, com ajuda externa, foram adaptando-se à maneira das novas gerações, ensinando e aprendendo com eles, novas maneiras de gerir o seu negócio.
Então também não se pode afirmar que o fracasso de empresas comandadas por familiares é uma regra no mercado. Ocorre, porém, que o leque de opções para a escolha de candidatos a cargos de gestão, fora da família é infinitamente maior do que dentro dela. E sem envolvimento emocional para atrapalhar, o risco de erro será sempre menor, principalmente com a chegada das novas gerações.
Por isso, o empresário que adotar o modelo deverá estar sempre atento e cercar-se de alguns cuidados para não cometer os mesmos erros das empresas que fracassaram.
Veja quais os tópicos mais importantes a considerar:
1. Não permitir que se misturem questões e interesses pessoais com os assuntos profissionais e da empresa. Principalmente assuntos que envolvam preferências entre os familiares, que fatalmente irão interferir no ambiente de trabalho, gerando animosidade, desmotivação e até mesmo inimigos dentro da gráfica. O que, além de tudo, poderá resultar na divisão da empresa por vários comandos rivais.
2. Jamais privilegiar alguém em detrimento de outrem, apenas porque aquele alguém é da família. É preciso muita luta, transparência, comprometimento e capacidade administrativa para merecer uma promoção. Todos devem ser tratados com isonomia, sob pena de ocorrerem os mesmos problemas citados no item anterior.
3. Não permitir em hipótese alguma confusões entre finanças da empresa e finanças pessoais de cada familiar, em todos os níveis da organização. Pode virar rotina e descambar para uma situação incontrolável, levando a gráfica a um total desequilíbrio financeiro. O fato de ser dono da empresa não significa que possa pagar contas particulares com o dinheiro da gráfica.
4. Ficar atento a pareceres dos consultores, das gerações mais novas em cargo de gestão e de outras pessoas que pelo menos façam parte de um conselho de administração a ser montado, mesmo na pequena gráfica, sem pertencerem à família, pois opiniões despojadas de outros interesses são as mais saudáveis.
5. Na gráfica, independentemente da função ou parentesco deve ser estabelecida a obrigatoriedade de condutas e comportamentos condizentes com a ética da moral e dos bons costumes. Pessoas gananciosas e prepotentes, da família ou não, que tem o hábito de utilizar méritos de outras, apoderando-se da autoria de uma boa ideia ou de um trabalho bem executado, por exemplo, ou de pisar nos colegas para atingir seus objetivos pessoais não devem jamais ser mantidas entre aqueles que lutam com lisura, competência e dedicação.
6. Levar em conta que uma nova geração está chegando que pensa e age de forma totalmente diferente do atual comando, sendo que, embora ainda com pouca experiência no nosso negócio, tem muito a ensinar, pois as coisas mudaram.
A chamada Geração Z é uma nova geração, tendo surgido posteriormente à Geração Y que em parte ja comanda nossas gráficas familiares. É caracterizada por pessoas que nasceram a partir de meados da década de 1990. É uma geração surgida conjuntamente com o avanço das novas tecnologias, acompanhando o novo mundo, ou seja, o chamado mundo tecnológico ou mundo virtual. Essa convivência cotidiana com aparelhos tecnológicos acabou propiciando para que essa nova geração aprendesse a usar várias tecnologias ao mesmo tempo, como por exemplo: acessar a Internet, escutar música e assistir TV.
Os jovens de hoje são a primeira geração a amadurecer na era digital. Essas crianças foram "banhadas" em bits. Diferentemente de seus pais, elas não temem as novas tecnologias, pois não são tecnologias para eles, mas realidade. E eles são as crianças do mundo moderno, do novo mundo, do mundo digital e são também chamados de a "geração digital”. São estes jovens da família (ou não) que estão entrando em nossas empresas e, queiramos ou não, teremos que aceitá-los, ajudá-los e até pedir opinião a eles, para em conjunto perpetuar as nossas gráficas.
7. Aceitar o fato de que, na gráfica tipicamente familiar, seja por deficiência técnica, por doença, por razões particulares ou por outro impedimento qualquer, pessoas que hoje ocupam cargos estratégicos, algum dia poderão não estar lá e também não existirem sucessores à altura dentro da família.
Isso quer dizer que, com o decorrer do tempo, a empresa pode precisar de reforços fora da família e, assim, desencadear um processo de perda da sua identidade de estrutura familiar. Porém não a estrutura organizacional, a eficiência e a eficácia. Por esta razão, os atuais gestores dirigentes terão que ser observadores, a fim de identificar deficiências, não só entre os membros atuantes da família, mas também em “personalidades” de possíveis sucessores, e quais "estranhos" de dentro da empresa podem ser preparados para assumir em caso de necessidade. Ou seja, antes que comece a acontecer é melhor estar preparado com pessoas qualificadas e com os perfis requeridos para os cargos.
A conclusão que fica é a seguinte: gráficas familiares, pequenas, médias e até grandes, para serem bem sucedidas no mundo dos negócios, devem escolher seus "gestores" de confiança sem qualquer envolvimento emocional, pelo menos para os chamados cargos estratégicos. E uma escolha com isenção total de envolvimento emocional SÓ PODERÁ SER FEITA POR PESSOAS DE FORA, quem sabe até por executivos de outras empresas não concorrentes, é claro. Vale a pena tentar!
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult.