Como recuperar o que perdemos na crise
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Nos sonhos, os empresários acreditam na recuperação do capital investido em poucos anos, ou menos, e vislumbram um panorama otimista para os próximos 10 ou 15 anos, algo como tornar-se uma "GRÁFICA 4.0" ou então, a chegada de algum megainvestidor antenado e alinhado com os objetivos que deram vida à tua empresa.
Na prática, a realidade é outra. É claro que o esforço, a tenacidade e, principalmente, a paixão marcam o início da retomada de toda gráfica otimista. Entretanto, o tempo de vida dela será determinado por fatores como visão, valores e, de forma pragmática, a gestão. Se estes três elementos estiverem (e se mantiverem) alinhados ao longo do tempo com a ideologia central, esta empresa estará apta a fazer parte do seleto e cada vez menor rol das "empresas vencedoras".
Os últimos sobressaltos do mercado, caracterizados como crise, mostraram o verdadeiro papel da gestão empresarial para a sobrevivência das nossas gráficas. E quando falo em "gestão", quero dizer a combinação prática do binômio TI e pessoas. A organização só é sustentável a partir do momento em que consegue conciliar estes dois termos. Agora, imagino os mais apressados e incautos inquietos e ávidos por me perguntar "mas o foco no cliente não é a razão de tudo?" Também sou partidário desta tese! Porém, se o gerenciamento for ineficiente, o foco no cliente vai por água abaixo.
Metodologias para lá de conhecidas como BSC (Balanced Scorecard), BPM (Modelagem de Processos de Negócios, na sigla em inglês), Lean (sistema percussor do Toyotismo) e Seis Sigma são fundamentais para que as empresas possam conduzir pessoas e tecnologias de forma harmônica, com produtos focados inteiramente no cliente, afinal é ele (o cliente) quem decide se a nossa empresa deve ou não continuar a existir.
Porém, as metodologias podem apenas indicar as ferramentas certas para a manutenção da operação nos eixos, mas para indicar o caminho para sair-se bem no futuro, o "GestLider", ou seja, o empresário que reúne as características de líder e gestor ao mesmo tempo, é essencial. Afinal, à exceção de motivos não éticos, as empresas começam a caminhar para um estado terminal quando seus dirigentes se afastam cada vez mais da figura e do comportamento do líder gestor.
Uma das características mais marcantes dos donos das "empresas moribundas" é a soberba. Em geral, o quadro gerencial destas companhias demonstra um sentimento de altivez originado pelo sucesso de outros tempos e isso acaba corroendo os ambientes interno e externo. Os executivos imodestos ignoram os preceitos da boa gestão e buscam o crescimento de forma míope e indisciplinada, ignorando os riscos decorrentes de desvio do foco central e, quando os indicadores negativos começam a aparecer, eles tendem a colocar a culpa no mercado, na concorrência, na crise e até no azar.
Muitos empresários acreditam que com uma fusão estratégica ou a contratação de novos executivos será possível reverter a queda livre. Evidentemente, e se ainda houver vigor financeiro, essas ações podem vir a dar certo. Mas, na maioria das vezes, é tarde demais.
Quando o distanciamento entre liderança e gestão é muito grande, pouco pode ser feito em curto prazo. Não é viável uma companhia ter sucesso sem que haja uma disciplina no cumprimento das regras de negócio, inclusive com fluxo de caixa sólido, e, por que não dizer, alegria de se trabalhar nela. Essas duas vertentes são as molas propulsoras para garantir a sustentabilidade e a vivência das nossas gráficas.
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)