Controle da Qualidade na Indústria de Mídia Impressa
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Quando retornei de meus estudos da Alemanha formado em Engenharia Gráfica, comecei a lecionar cursos de Custos e Controle da Qualidade na Indústria Gráfica, então na Sede da ABIGRAF. Na época lancei uma Brochura sobre Controle de Qualidade na Indústria Gráfica, com tiragem de 1.500 exemplares financiada pela ABIGRAF e impressa em Tipografia. Foi um sucesso. Os exemplares se esgotaram e parte de seu conteúdo já está ultrapassado pelas novas normas ABTG/ABTCP/ABNT e naturalmente ISO. Na época eu utilizava as Normas da FOGRA e da GATF principalmente para Embalagens de Papel-Cartão e Microondulado. – Trabalhava então na empresa L.Niccolini SA. aonde montei um dos primeiros laboratórios de Controle de Qualidade de Materiais Gráficos e Processos de Impressão, o que impressionava os clientes, grandes consumidores de embalagens cartonadas. Posteriormente montei também um setor de formulação de tintas especiais com aparelhos IGT e Quick-Peek. São velhas histórias, porém ainda presentes principalmente na Indústria de embalagens semi-rígidas e de material Promocional. Aulas na ABRE e na APP eram corriqueiras e estavam sempre tomadas de pessoal interessado nas novas técnicas, pois o mercado assim o exigia.
O custo da má qualidade: O custo da qualidade pode ser definido como o custo resultante dos recursos empregados para a obtenção da qualidade. A existência de custos relacionados com a não-qualidade resulta sistematicamente num acréscimo mais ou menos relevante nos custos operacionais, que dadas as características desses acréscimos, acaba por complicar os custos totais envolvidos. Importa, então, compreender que custos estão associados à prática de uma política de qualidade no cerne de uma empresa e, identificar a relação existente entre estes e os custos decorrentes da não qualidade.
Uma das maiores dificuldades na implantação da qualidade nas gráficas diz respeito ao comprometimento de toda a empresa, que deve contar com o apoio decisivo de todos os integrantes da alta direção. Um único elemento que não tenha se convencido da necessidade do programa pode colocar tudo a perder, independente de sua importância na gráfica. Outro problema está relacionado com a indicação de uma pessoa inadequada como coordenadora. Não pode ser desorganizada, com pouca habilidade interpessoal, sem liderança e pouca tenacidade. Igualmente, o coordenador de implantação de um sistema de gestão não necessariamente deve ser uma pessoa da área técnica. O Responsável pela qualidade da área produtiva, este sim, deverá entender de toda a cadeia de tarefas gráficas. Outro entrave diz respeito aos recursos inadequados ou insuficientes. Se para montar a equipe de trabalho forem indicadas pessoas pouco capacitadas, ou de relacionamento difícil, trata-se de um indício claro de que o programa não poderá ser levado a sério pelos gestores. O mesmo se pode dizer quando não se dispõem de computadores para o trabalho. É importante salientar que todos os funcionários estejam conscientes, avaliando o quanto esse processo é ou não importante para a gráfica em função dos produtos finais nos clientes. Em virtude disto, destinar uma área de trabalho bem equipada para o grupo de implantação é uma providência que confere status ao programa.
As propriedades de produtos, serviços, atendimento ou ações são testadas, para a certificação de um padrão de qualidade de nossa gráfica em função de determinados clientes. Além do controle de qualidade interno, existem vários órgãos em todo o mundo que regulamentam tais padrões e especificações técnicas. Cada país possui sua legislação sobre o assunto e o não cumprimento da lei pode render sanções. Apenas no século XX, foram aprimoradas as técnicas de controle de qualidade internacionais (Como as normas ISO) que conhecemos hoje, mas o processo tem longa história. A partir do momento onde começaram as relações de compra e venda, padrões começaram a ser seguidos. Quando surgiram os primeiros processos começaram a ser criadas as definições sobre a fabricação dos produtos e estes precisavam ter especificações técnicas pré-definidas, como o são hoje.
Hoje em dia iniciamos a Gestão da Qualidade com o mais importante, que é a qualidade da informação, que se inicia na transmissão de informações do cliente para a gráfica através do departamento comercial, ou até mesmo entre cliente e pré-cálculo. Fundamental é que toda e qualquer informação deverá ser passada por escrito e se possível com modelo ou desenho técnico. Portanto o Departamento Comercial necessita conhecer tecnicamente o que vende. Também o Pré-Cálculo deverá ter todos os conhecimentos técnicos do setor, além de conhecer o programa de cálculo e todas as suas parametrizações. Um controle de qualidade depois de feito o pré-cálculo e, antes de enviá-lo ao cliente é necessário, para poder se avaliar se nada foi esquecido.
Não podemos nos esquecer do Controle da Qualidade da Área Comercial, onde verificamos a eficácia dos vendedores, Sistemas de CRM, B2B, B2C e o retorno do esforço de vendas junto aos clientes. Marketing de Relacionamento, Sites e outras ferramentas terão que ser controladas.
Aprovado o serviço e antes de abrir a OP (OS), deverá ser feito o Controle de Qualidade dos Arquivos enviados pelo cliente, seja em CD, FTP ou outra mídia. Não iremos neste artigo entrar nos detalhes técnicos de cada controle de qualidade, caso contrário, estaríamos escrevendo um livro. O PCP terá como base para abrir a OP (OS) a Ficha Técnica do impresso, o Preview do CQ da Pré-Impressão e naturalmente o Boneco ou Mock-Up do trabalho.
O PCP deverá se certificar de que Compras tenha as Especificações Técnicas das Matérias Primas (Papel, Tintas, Vernizes, Hot-Stamping, Adesivos, etc.) para que ao chegar o material ao recebimento, o Controle da Qualidade da Matéria Prima esteja embasado nas Normas e Procedimentos de controle. O mesmo se dará com os Serviços de Terceiros. Em caso de problemas, abre-se uma Ficha de Não Conformidade (FNC) e o procedimento deverá seguir as "Boas Práticas" do CQ implantadas.
O Controle de Qualidade dos Processos Produtivos, já têm normas aprovadas pela ABTG/ABNT e pela ISO, além de outras normas adotadas pela GATF e FOGRA para todos os sistemas de produção nas gráficas inclusive Digitais e de Grandes Formatos. Além disso, deve existir na gráfica o Controle de Qualidade da Manutenção Preventiva e Corretiva. Outros sistemas de impressão, como por exemplo, a Flexografia de Banda Estreita e de Banda Larga, têm normas específicas para controle de Clichês, Anilox, Tintas, Fitas, Matérias Primas diversas, tanto Polímeros como Autoadesivos.
Já na área de embalagens cartonadas em Papel-Cartão ou Microondulado em diversos tipos de onda temos as normas da Board Package Association, Feffco, Assco e outras. A confecção de ferramentas de corte (Facas Planas ou Cilíndricas) seguem também rigorosos procedimentos de Controle de Qualidade, independentemente se feitas analogicamente ou a laser.
Com a evolução tecnológica, mostrou-se necessária a estandardização dos processos de fabricação dos impressos. Nas Gráficas, era comum a presença de um supervisor, que fiscalizava o trabalho dos funcionários, garantindo que os impressos fossem feitos com especificações técnicas pré-definidas. A preocupação com o padrão de produção, inicialmente, surgiu para evitar o desperdício nas empresas. A essa altura, foi estipulado que, no máximo, X% dos produtos impressos na gráfica poderiam ter defeitos. Essa porcentagem era a ideal em uma linha de produção de alto desempenho. O supervisor de controle de qualidade deve ajudar no aprimoramento dos processos de produção, ajudar a definir os padrões dos produtos da gráfica e estar atento às legislações e normas técnicas para o ramo de atividades da firma. Na área de embalagem, temos ainda muitos detalhes a observar, como por exemplo, as Ferramentas (Facas), as Resistências físico-químicas, Resistências à Luz, em Microondulado os tipos de onda e os materiais usados na onda e nas duas faces do "sanduíche", os adesivos, etc. O responsável pela qualidade é o operador da máquina.
Temos ainda a vasta área Editorial onde a complexidade do Controle de Qualidade, abrange jornais, vários tipos de acabamento de livros e revistas, além de Material Escolar. Milhares de gráficas em todo o mundo são certificadas na ISO 9000. A norma está em vigor há quase 20 anos. As empresas que utilizam este padrão internacional atendem diversos nichos de mercado, mormente embalagens. Tradicionalmente, as empresas com menos de 50 pessoas são consideradas pequenas, enquanto aquelas com aprox. 200 funcionários são considerados de médio ou grande porte. Não existe uma definição precisa para esses números. A Printconsult, no entanto, ainda é de opinião, de que a aplicação das Boas Práticas de Fabricação e Gestão é mais eficiente e menos burocrática que a implantação das Normas ISO. Isso por ter que utilizar menos "papelada" e em segundo lugar, pelo que observamos mesmo com a Norma ISO sai muito serviço errado, pois a Norma é revista sempre pouco tempo antes da recertificação, enquanto que as Boas Práticas de Fabricação é uma constante adaptação à modernas tecnologias gráficas e de gestão geral.
Não podemos esquecer em nossas gráficas, o controle da qualidade da área financeira, onde temos o Fluxo de Caixa e o controle do Pós-Cálculo com a Margem de Contribuição e o ROI. E o nosso departamento de Recursos Humanos, ficou esquecido? Temos que avaliar também a contribuição deste departamento para a eficácia da empresa.
Para finalizar queremos salientar o que falamos no início: 60% dos problemas das nossas gráficas são oriundos de falhas na comunicação. A Comunicação é o processo de emissão e retorno de informação. Se uma pessoa transmitir uma mensagem e esta não for compreendida pela outra pessoa, a comunicação não se efetivou.
Em comunicação, três regrinhas são básicas:
É muito difícil dissociar o que é dito de quem o diz.
O que dizemos não é necessariamente o que as pessoas entendem.
O que elas entendem é mais importante do que o que dizemos.
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult.