Cultivo de matas e o apelo da FAO
Fabio Arruda Mortara
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) acaba de lançar apelo a todos os países no sentido de que realizem esforços para o cultivo de matas nativas. Na visão desse organismo multilateral, a medida, inclusive combinada com a cultura agrícola ou a pecuária, ajudará milhões de pessoas a saírem da pobreza e evitará a degradação ambiental. Trata-se, portanto, de prática alinhada ao mais contemporâneo conceito de sustentabilidade, contemplando os aspectos econômico, social e ecológico. A orientação da FAO sobre o tema está embasada em um guia destinado a gestores, organizações não governamentais e instituições do setor estatal. O manual demonstra como os sistemas agroflorestais podem ser integrados a estratégias nacionais e como as políticas podem ser adaptadas às peculiaridades de cada país. São dez tópicos para ações, incluindo o esclarecimento de normas das políticas de uso da terra, além de exemplos de boas práticas e casos de sucesso. Um dos exemplos citados refere-se à Costa Rica, onde mais de 10 mil contratos foram assinados para sistemas agroflorestais nos últimos oito anos, com mais de 3,5 milhões de árvores sendo plantadas.
No Brasil, a cadeia produtiva da comunicação impressa contribui de modo relevante para a concretização dessa recomendação da FAO, sendo responsável pelo cultivo de milhões de árvores, destinadas à produção sustentável de celulose e papel para imprimir. Com isso, também é preservado o inestimável patrimônio das florestas nativas, que não são cortadas com essa finalidade. Em nosso país, cem por cento do principal insumo das gráficas provêm de florestas cultivadas, que são plantadas para serem colhidas, e que ainda proporcionam um ganho adicional ao meio ambiente: são absolutamente sustentáveis e seu manejo permite manter grandes áreas plantadas, as quais, na fase de crescimento, sequestram na atmosfera expressivo volume de dióxido de carbono. No Brasil, as matas plantadas com finalidade industrial absorvem um bilhão de toneladas por ano desse gás, que é o principal causador do efeito estufa. Ou seja, a principal matéria-prima da indústria de comunicação gráfica, o papel, é reciclável e também renovável. Essa cadeia produtiva atende, portanto, aos requisitos da produção política e ecologicamente correta. Nem poderia ser diferente, pois não há mais como poluir para produzir. Para atender de modo eficiente às exigências da indústria limpa, são essenciais tecnologia e processos avançados, normalização adequada, produtividade, qualidade, racionalidade no uso de insumos e consciência quanto à responsabilidade socioambiental. Na esteira da orientação da FAO às nações, é oportuno reiterar uma informação pertinente para o esclarecimento da sociedade: no Brasil, não se derruba um arbusto nativo sequer para que nossas crianças tenham livros e cadernos e possamos ler jornais e revistas, acondicionar produtos em seguras e criativas embalagens de papel-cartão e desfrutar de todos os benefícios com os quais a mídia impressa contempla nossa civilização.
* Fabio Arruda Mortara M.A., MSc., empresário, é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional) e do Sindicato das Indústrias Gráficas do Estado de São Paulo (Sindigraf-SP).