Executivos e Gestores, muitas vezes mestres em embromação

Thomaz Caspary ( In memoriam )

Assim como eleitores têm uma capacidade de eleger governantes ineptos, observo alguns diretores e empresários escolherem, com preocupante frequência, embromadores para cargos importantes das empresas. Além de comprometer sua imagem e o resultado, causam enorme frustração aos demais líderes da empresa. 

Embromadores no mundo todo e por que não falar dos que aqui habitam nossas empresas, são capazes de afirmar platitudes com profunda solenidade. A mais comum delas é a constatação de que o mundo está num momento “de transição” e que “passamos por um momento de crise”. 

Uau!  Que descoberta!  Fico imaginando em que etapa da história da humanidade tivemos um momento definitivo, completo e acabado...  E essa “transição” é aferida através de “sinais” assim como a “crise”. 

Muitos leitores devem se lembrar de um personagem da “Escolinha do Professor Raimundo”: Rolando Lero um dos personagens, interpretado por Rogério Cardoso fazia graça "enrolando" o Professor Raimundo, já que ele nunca sabia as respostas. O personagem contribuiu com o bordão "Captei vossa mensagem, amado guru" e variantes, que acabaram por se tornar parte da fraseologia do português falado no Brasil.

Na cultura popular brasileira, alguns advogados levam fama de falarem demais e tentarem enrolar outras pessoas com discursos cheios de palavras pomposas e vazias de significado. O discurso do Rolando Lero tem exatamente a mesma característica. Ele dispõe de um vocabulário rebuscado e elitizado, mas que demonstra ser pobre de conhecimento. Seu discurso é uma tentativa de ludibriar o professor.

A meu ver, os termos jogo de cintura, jeitinho e enrolar estão todos relacionados. São maneiras de expressar, em palavras, fenômenos importantes na cultura e na vida no Brasil. Assim como em outras culturas, no Brasil, a pessoa que quer contornar situações embaraçosas usando a lábia e a embromação é figura proeminente na literatura e no imaginário, além de por algumas vezes infelizmente em nossa vida nos dias de hoje.

Existem várias formas de uma pessoa “enrolar“. Há, por exemplo, aquele que não quer falar algo que deveria. Se a pessoa não está dando aquela resposta porque não quer passar informações que sejam confidenciais ou que deponham contra sua própria pessoa.

Também tem a da pessoa que não quer tomar uma decisão sendo que neste caso, simplesmente empurra a decisão com a barriga ou “esquece”. Ainda há aquela que é como “encher linguiça”, ou seja, a pessoa que faz muito para não fazer ou dizer nada.

Existe ainda a pessoa enrolada que não cumpre com suas promessas, ou demora muito para realizar certas tarefas. Um estudante de direito saiu-se com uma boa tradução para o inglês, ou seja “Embromation”.

Embromadores são bons na entrega de explicações e no remanejamento de planos, principalmente para esconder seus maus resultados e se apropriar daqueles obtidos por outras pessoas. Um líder justo jamais permitiria a alteração das regras de avaliação no meio do caminho. 

Não basta ser competente, o indivíduo tem de parecer competente e, portanto, a apresentação é importante. Mas, se o conteúdo não for bom, devemos avaliar na maior velocidade possível e tomar as medidas de correção necessárias. 

Precisamos estar atentos para o fato de que o desenho atual das relações empresariais não aceita mais a falta de diálogo, ausência de justificativa embasada para as atitudes e principalmente o fator emocional. Ninguém deixa suas emoções em casa quando sai para o trabalho, nem tão pouco deixa de ser gente, só porque está na linha de produção. Já ficou provado que isso é impossível. A psicologia também nos mostra que tudo o que o ser humano mais anseia na vida, ao contrário de dinheiro, é ser reconhecido pelo que ele é e pelo que ele é capaz de realizar. Em linguagem empresarial é ser valorizado.

Sempre existiu e existirão os enroladores, nas empresas. Verdade que alguns são bem sofisticados e não aparentam, mas eles existem e estão por toda a parte.