Gráfico “bonzinho” quase sempre paga o pato.
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Ao visitar inúmeras empresas gráficas pude verificar em todas elas sem distinção, uma enorme gama de desperdícios que acabam custando muito dinheiro para o empresário. Tenho também tentado compreender, por que não cobramos de nosso cliente, certos custos de pré-impressão, como refazer arquivos que vem em programas não destinados ao ramo gráfico, que tenham que ser refeitos que por estarem em formatação errada, exigem um retrabalho muito grande. Arquivos que após a primeira “plotter” (prova de baixa definição), são totalmente modificados pelo autor e depois refeitos gratuitamente para “não perder o cliente”. Será que você, amigo gráfico, sabe o que custa refazer uma prova duas, três ou até quatro vezes? Você é assim “bonzinho” ou eventualmente nem sabe quanto custa a hora de sistema em sua pré-impressão.
Ouço de muitos gráficos, a famosa desculpa de que os custos de pré-impressão estão todos embutidos no custo-hora das impressoras e que isso é o suficiente. O empresário nem se da conta que muitas vezes por causa desta “bondade”, acaba perdendo serviços que não tem nenhum trabalho de sistemas, pois recebe o arquivo em perfeita ordem. Ou seja, o cliente bom acaba pagando pelo cliente ruim, ou a gráfica acaba “pagando o pato” em não conseguir pegar certos serviços.
É necessário separar a pré-impressão em suas diversas etapas, em centros de custo diferenciados e cobrar pelos serviços refeitos por erros do cliente. Vamos um pouco mais a fundo nesta questão. Por que o cliente erra? O cliente nunca erra! O cliente “se engana”. E o cliente entrega arquivos abertos totalmente absurdos, pois não foi devidamente orientado. Toda gráfica tem a obrigação em orientar seus clientes em que programas querem receber os arquivos (abertos ou fechados) e de que forma deverá ser o procedimento, na confecção destes arquivos. Para isso a ABTG e outras organizações, dispõem de literatura e cursos específicos de esclarecimento.
O mais importante, porém é conhecer seu custo-hora de pré-impressão e deixar claro para o cliente, que determinadas operações que fujam da normalidade proposta, serão cobradas a razão de “x” reais por hora de sistema. Como fazer o custo-hora de sistema é o menos complicado. As empresas de software gráfico, como a Calcgraf, Ecalc, Metrics, Zênite, Bremen, etc. tem planilhas específicas para os diversos setores de pré-impressão. Caso não queira utilizar-se de nenhum destes programas, você poderá fazer seus custos em uma planilha Excel.
A perda de recursos na produção é outro fator que deveria ser mais bem observado. O dono da gráfica, outra vez é “bonzinho”, não liga para isto, pois está preocupado em vender e acaba novamente “pagando o pato”.
A perda de materiais ou produtividade é mais fácil de ser identificada, embora na maioria das gráficas aqui no Brasil não seja comum encontrar empresários gráficos voltados para a detecção deste tipo de desperdício, fato que pode facilmente ser detectado com a utilização das ferramentas oferecidas pelas já citadas empresas de programas de gestão acima. Muitas vezes encontramos algumas gráficas que se preocupam com as horas improdutivas, implantam inclusive os devidos boletins de apuração, más não agem com rigor para eliminar os problemas apontados nestes boletins.
O que mais preocupa neste sentido, é a acomodação dos nossos gráficos com o baixo desempenho e rentabilidade produtiva. Essa situação tem como conseqüência sérios prejuízos para a economia da empresa que tem seus custos elevados e, portanto redução da lucratividade, uma vez que o preço de venda já foi fixado.
O empresário gráfico precisa urgentemente modificar esta situação, mormente neste mercado tão competitivo onde não é mais possível permitir-se desperdiçar tanto. Deve ser introduzido na empresa com a máxima urgência um programa de eliminação do desperdício que se inicia com Normas e Procedimentos em relação às informações técnicas prestadas pelo homem de vendas ao orçamentista, passando pelo responsável em abrir a ordem de serviço, levando em conta os controles de material e mão de obra, tanto na pré-impressão, como na impressão, acabamento e serviços terceirizados.
Muitos empresários não sabem quanto estão perdendo, ou em outras palavras, o quanto estão deixando de ganhar. Outra situação é a dos trabalhos devolvidos pelo cliente. O gráfico toma conhecimento e manda refazer. É uma “bronca” para este ou aquele funcionário e tudo é esquecido.
Você empresário, já fez uma vez os cálculos? Qual a percentagem do seu faturamento que é devolvida? Qual a percentagem de seus trabalhos de pré-impressão que tem que ser consertados ou refeitos? Que exigem um sem número de provas adicionais?
Estivemos outro dia em uma gráfica de pequeno porte e levantamos que nos últimos seis meses a devolução de serviços esteve em torno dos 4,5% do faturamento bruto e que 40% dos serviços de pré-impressão exigiram novas provas ou a remodelação dos arquivos originalmente enviados. É verdadeiramente um absurdo! Absurdo maior é, no entanto a acomodação do empresário que não se dedica a reduzir este desperdício que tanto afeta a sua lucratividade.
Existe uma carência ampla que podemos observar nas nossas gráficas, com relação ao desperdício. Esta carência se denomina acomodação, falta de Normas e Procedimentos e Conhecimento Técnico dos envolvidos em Vendas (Externas e Internas). Caberia aos donos de nossas empresas gráficas, promover uma reversão desta situação, através da implantação de sistemas de controle implantação de Boas Práticas e da orientação técnica e motivacional de equipes.
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)