Gráfico: é hora de acordar!
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Mesmo correndo o risco de "chover no molhado", pois já falei e repisei muito estes assuntos, o fato é que você, amigo gráfico precisa definir exatamente os rumos de sua gráfica agora em 2009, bem como os tipos de impressos que oferecerá e, naturalmente, para quem. Concentre-se naquilo que traz resultado para sua empresa. Lembre-se que ninguém pode fornecer tudo para todos.
Nas últimas semanas, aumentou a percepção de que a crise financeira é pior do que se imaginava. Suas ramificações na economia mundial e aqui no Brasil parecem ser bem maiores do que se diagnosticava. É possível, no entanto, que estas visões alarmistas não venham a atingir negativamente a sua gráfica. Por esta razão, precisamos refletir um pouco, sobre as medidas a tomar em nossa empresa, a fim de que possamos flutuar numa “marola” (como disse certa vez nosso presidente) em vez de submergir num “tsunami”.
No ano passado, o MIT (Massachusetts Institute of Tecnology), nos Estados Unidos, publicou um estudo, em que revela que executivos orientados para o resultado são movidos por um ciclo virtuoso de crenças e comportamentos que os motiva a ir cada vez mais longe. A conclusão do MIT foi: inteligência, criatividade e conhecimento são essenciais para um bom gestor, mas somente a eficácia na utilização desses atributos os converte em resultado. Por eficácia entenda-se a utilização dosada desses atributos aliada à gestão da equipe. E é isso que teremos que intuir e aprender para que não haja um desgaste muito grande do empresário gráfico.
Teremos que cuidar de várias frentes ao mesmo tempo e, para isso, necessitaremos de ferramentas de trabalho como, por exemplo, sistemas de gestão, relatórios de análise confiáveis, sejam através dos bons sistemas de gestão existentes no mercado ou elaborados internamente através da indicação de especialistas em análises de gráficas. A primeira e mais importante ferramenta, será nosso “Plano de Negócios” acrescido do “Budget” (previsão de faturamento e despesas) além é claro do acompanhamento diário de nosso Fluxo de Caixa e de toda a movimentação de vendas, faturamento e resultados de cada ordem de produção.
Forçosamente teremos que reestruturar nossa área comercial, procurando em primeiro lugar, fazer a fidelização de nossos já tradicionais clientes e implementando o “cross-selling”. Teremos que buscar novos nichos e segmentos de mercado, justamente aqueles que estarão sendo menos afetados pela crise econômica. Alertamos, porém nossos amigos gráficos, que muitas empresas que vinham honrando seus compromissos com regularidade, estão começando a atrazar seus pagamentos e alguns até por conta da crise estão deixando de pagar e renegociando prazos, o que afeta enormemente o nosso fluxo de caixa. Convém, portanto fazer uma pesquisa no SERASA ou SPC ou outra instituição de análise creditícia, antes de fechar o pedido com seu cliente que sempre pagou direitinho.
Além disso, chegou a hora de rever os seus custos, bem como os critérios adotados para a formação dos mesmos e principalmente da formação do preço de vendas. A hora é também propícia, para eliminar a velha tradição de colocar “gordurinhas” com medo de errar nos cálculos. Se tivermos tudo sob controle, por que razão o orçamentista estaria errando nos cálculos? Vários são os fatores que nos levam a “errar” nos cálculos. O primeiro deles é que o orçamentista é um simples “digitador de programa de orçamentos” que não pensa como orçamentista e segue fielmente o que o programa preconiza. Se o programa foi parametrizado com números médios do mercado no lugar de números da empresa (pois o dono da gráfica não tem os próprios números), certamente o resultado não será o real da empresa. Uma segunda questão é a informação dada para orçamento por parte do vendedor ou do cliente. Feito o orçamento e dado o preço acabou. Na hora em que chegam os arquivos ou fotolitos, percebe-se que existem “pequenas” diferenças entre o orçado e o serviço a executar, sendo que na maioria das vezes o dono da gráfica, não cobra a diferença, engolindo o prejuízo.
Na verdade, muitos empresários estão seriamente preocupados com suas equipes. Para 60% dos empresários por nós entrevistados, ter melhores funcionários em todas as áreas da empresa, tanto em posições de vendas, administrativas, de planejamento de produção e de custos e orçamentos, bem como no chão de fábrica é a única solução para resolver a grande maioria dos problemas da empresa. Infelizmente está muito difícil encontrar estes elementos e, a única saída que vemos, é o treinamento de pessoal, a começar pelo próprio dono da empresa, através de um “coach” que o assessore, ou fazendo cursos nas instituições de ensino e treinamento. Para o micro e pequeno empresário, podemos sugerir o SEBRAE, as Abigraf’s e Sindigraf’s regionais bem como a ABTG. Já para as outras funções, temos além das entidades acima citadas o SENAI para os profissionais de gestão e chão de fábrica. Gostaria de deixar novamente bem claro, neste momento, de que a aquisição de um programa de gestão e, mesmo o treinamento não é custo e deve ser encarado como investimento.
Repisando: Nada é mais fatal, para uma pequena ou média gráfica, que uma estrutura com custos altos. Seja conservador e cauteloso nesta área. Lembre-se: a sua equipe tomará como exemplo suas atitudes. Será muito difícil envolver seus funcionários em uma administração enxuta de custos se eles perceberem que você é um grande gastador. Pense também em terceirização. Deixe para outras empresas tarefas que não agreguem valor ou que você não possa executar por causa de seu maquinário. Foque toda a sua atenção e a de seu pessoal de PCP à atividade principal de sua empresa. Se você fizer isso, poderá se tornar o melhor naquilo que faz e ainda por cima ganhar dinheiro.
Durante o último Natal andei lendo muita coisa boa para relaxar. Entre outras, li muitas coisas de Carlos Drummond de Andrade entre as quais um poema chamado “Receita de Ano Novo” do qual quero transcrever um pequeno trecho: “Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre “. Feliz e próspero Ano Novo!
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)