Indústria Gráfica: Está difícil fechar esta conta
José Fernando da Silva Rocha
A Indústria Gráfica Brasileira passa por momentos desafiadores. As mudanças são grandes e os empresários do setor precisam realmente mostrar sua capacidade como gestores, diferentemente do passado, quando ser um bom operador ou um bom vendedor que entendesse do negócio poderia credenciar alguém a ser empresário do ramo e obter bons resultados financeiros.
Estamos vivendo o fortalecimento das mídias eletrônicas, a concorrência com mercados internacionais e, por fim, o forte desequilíbrio entre oferta e demanda, uma vez que o mercado não acompanhou o aumento significativo da capacidade de produção das gráficas brasileiras.
Diante de toda esta situação, não adianta querer olhar para fora e buscar a solução para o problema. Afinal, a questão está dentro da nossa empresa e somos nós que estamos protagonizando tudo isto. Além do mais, se tivéssemos investido adequadamente em capacidade produtiva, boa parte do problema teria sido evitado. Mas isto não é tão simples.
Em nosso meio é comum pensarmos da seguinte maneira: Se o vizinho compra uma máquina nova eu devo comprar uma melhor do que a dele. Se o nosso vizinho pode fazer por um preço absurdo, eu posso igualar e dar um desconto. Máquina produzindo impressos cujos preços não trazem resultado nenhum para a empresa é muito melhor do que deixá-la parada. Enfim, o efeito psicológico negativo parece afetar muito mais do que o econômico, pelo menos em um primeiro momento, porque mais tarde a conta virá.
O que fazer então? A resposta é bem complexa e é aí que entra a capacidade de gestão. A indústria gráfica é um negócio difícil de “tocar”: os clientes são exigentes, os equipamentos são caríssimos e a mão-de-obra tem que ser especializada. Além disso, trabalhamos por encomenda, ou seja, na grande maioria das gráficas, não sabemos se teremos pedidos nos próximos dias.
Aí vem o maior complicador disso tudo: o preço praticado no mercado permite margens muito baixas, incompatíveis com a complexidade do negócio. Existem muitos negócios relacionados ao simples comércio de produtos (atacado, varejo, distribuidora, etc.) com margens melhores do que as nossas. Porém, com um diferencial gigantesco, não precisam produzir nada, não precisam investir em tecnologias que sofrem forte depreciação e, na maioria dos casos, não precisam de mão-de-obra especializada.
Claro que todo o setor tem suas dificuldades, mas tudo leva a crer que estamos em desvantagem neste comparativo com outros setores.
Por tudo isso, o gestor de uma indústria gráfica hoje precisa dispor de avaliações de retorno de investimento para evitar aquisições que possam colocar sua empresa em sérios apuros. Necessita também de processos produtivos que visem produtividade eficiente com redução de custos e ganhos de qualidade, políticas comerciais e de gestão de RH para manter a equipe motivada e com capacidade produtiva, além de precisar saber como atuar na comunicação/propaganda do seu negócio.
Sendo assim, antes de investir pesado, o gestor gráfico precisa fazer uma avaliação criteriosa. Antigamente, se desse errado não era difícil voltar atrás, vender o equipamento e retomar o sossego. Já a situação hoje é bem diferente, é fácil entrar e muito difícil sair ou voltar atrás.
Enfim, toda esta conta é subjetiva, não é exata. É um pacote que não se pode comprar pronto. É necessário preparo, inteligência, dedicação e informação. As entidades (ABIGRAFs e Sindicatos) do setor atuam no sentido de fornecer informações e condições para o gráfico buscar subsídios que o ajudem em seu dia-a-dia (principalmente o pequeno e médio), oferecendo cursos, palestras, congressos e workshops. Mas o empresário precisa participar e fazer por si.
Assim, estaremos nos fortalecendo no sentido de obter sustentabilidade financeira em nossas empresas.
Contar com consultores para nos auxiliar também é uma boa opção. Eles não são baratos, mas custam bem menos do que um grande prejuízo devido a decisões tomadas de forma equivocada.
Também sou um empresário do setor e espero que todos nós tenhamos sabedoria suficiente para resolvermos nossos desafios da melhor maneira possível, a fim de obtermos o merecido retorno financeiro de nossos investimentos.
* José Fernando da Silva Rocha Presidente da ABIGRAF/SC