NÃO TEMOS VAGAS!
Será que faltam empregos e sobram vagas?
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Pego o jornal de hoje e leio: “País fechou 345 mil postos de trabalho no primeiro semestre de 2015, pior resultado dos últimos 13 anos”. Se, no entanto, acompanhamos os resultados comparativos do último mês, a coisa está piorando. A maioria dos setores industriais está demitindo cada vez mais.
Não conheço família que não tenha um ou mais membros desempregados ou trabalhando no mercado informal. Ao mesmo tempo, existem muitos postos de trabalho abertos por falta de qualificação dos candidatos.
Esse é o Brasil. É sempre assim: qualquer surto de crescimento esbarra com uma séria falta de pessoal qualificado. Quando o ano 2000 começou acelerado, muitas empresas tentaram ampliar seus negócios. Na época, as montadoras de automóveis estavam trabalhando com jornadas turbinadas, tendo recrutado todos os trabalhadores disponíveis na região, não sobrando nada para quem vinha de fora em busca de qualificação. Resultado: as empresas do interior não puderam expandir.
Nestes dois últimos meses, quando o “calo” começou a apertar foi necessário reduzir os custos e o empresário, no lugar de iniciar pelo aumento da produtividade, resolveu reduzir o seu quadro de pessoal. Resultado, a coisa só piorou, pois um desempregado (e sua família) não consome e assim “o cachorro corre atrás do próprio rabo”. As indústrias para se manter necessitam de mão de obra que resolva e não acham quem procuram. Grande parte dos novos contratados são funcionários de baixa qualificação, para fazer serviços gerais, ganhando entre 1 e 3 vezes o piso da categoria. Mas, para preencher os níveis de maior qualificação, as dificuldades são imensas.
A falta de pessoal qualificado é problema para as áreas de administração, vendas, PCP, recursos humanos, especialistas em gráfica com reais conhecimentos da profissão, Tecnologia da Informação, Logística e vários outros tipos de técnicos industriais, advogados com especialização, etc...
Por força das inovações tecnológicas, dos novos métodos de produzir e da crescente concorrência, o mercado de trabalho tornou-se mais exigente. Em 2012, 98% das vagas das regiões metropolitanas, foram preenchidas por pessoas que tinham onze anos de escola ou mais – ensino médio.
Isso contrasta com a realidade da oferta. O Brasil tem ainda 8% de analfabetos absolutos e 70% de analfabetos funcionais que, apesar de terem cursado a escola, têm sérias dificuldades para entender o que leem e fazer cálculos elementares.
Nessas condições, a sua empregabilidade se reduz, mesmo porque o mercado busca outras características além da boa formação profissional. Nos dias de hoje, não basta ser adestrado; é preciso ter quociente emocional e criatividade profissional. O adestramento ensina a pessoa a fazer uma coisa só para o resto da vida.
Para um jovem entrar no mercado de trabalho, não basta ter o diploma; é preciso ter respostas. Além disso, espera-se que o candidato tenha as condutas adequadas para garantir produtividade, competitividade e os próprios empregos, tais como: bom senso, lógica de raciocínio, capacidade de trabalhar em grupo, habilidade para se comunicar e entender o que lhe é comunicado, domínio de mais uma língua além do português e da informática, ter gosto pelo que faz, amar a profissão, comprometer-se com a tarefa, ter disciplina em todos os aspectos, ser obsessivo para se apreender, carregar nas veias o vírus da curiosidade, ter garra no que executa, enfim, ter a ética do trabalho.
Tirar o atraso na educação brasileira vai levar uns 10 ou 15 anos se começarmos a trabalhar seriamente desde já. Mais importante que um adicional de recursos, é a melhor aplicação dos mesmos. Isso é essencial.
Muitos argumentam que educação e treinamento não gera emprego. É uma meia verdade porque o seu efeito indireto é estimulador do emprego pelo simples fato de que a boa educação atrai os investimentos e estes garantem novos postos de trabalho. Educar e treinar adequadamente são, garantir o progresso de qualquer empresa e país. Deixar de treinar é jogar fora o passado e eliminar o futuro.
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)