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O caos da urgência

Somos responsáveis por tudo que nos acontece, pois somos os agentes que acionam tudo.

Thomaz Caspary ( In memoriam )

Certa vez um colega chegou todo sujo e reclamando, pois seu carro havia apresentado problemas. Perguntei o que havia acontecido e ele me disse que o carro tinha fervido.

Não contente, perguntei por que. Ele disse que não tinha colocado água no radiador. Me disse que não teve tempo para isso. Perguntei então a ele o que o atrapalhou tanto que não pudesse parar alguns minutos para colocar água. Ele afirmou que passara o dia correndo atrás de uma conta que estava atrasada e ele precisava pagar. Perguntei por que o pagamento da conta estava atrasado e ele disse que no dia que deveria pagar a conta ele estava muito atribulado com outros assuntos e acabou esquecendo.

Com calma, para que não ficasse nervoso, perguntei por que estivera ele tão atribulado que deixou de pagar a conta. A resposta foi que ele estava envolvido com um relatório do trabalho.

Parei de perguntar, pois se continuasse perderia o amigo, ou então não encontraria o fim.

A questão é que o problema dele não era o carro, mas sim o relatório. O que causou o problema no carro não foi a falta de água, mas sim o atraso no relatório.

Não temos ainda toda a consciência para buscar a origem de nossos problemas, mas como o exemplo citado, as origens serão sempre ações (ou ainda A FALTA DE AÇÕES OU ATITUDES) de nossa parte. Perceba que se o meu colega não estivesse com o relatório atrasado poderia pagar a conta e, portanto teria colocado água no reservatório e o carro não teria fervido. Simples assim.

O instante, este instante, cada instante, é importante. Se deixarmos algo por alguns segundos, algo que deveria ser feito naquele instante, as consequências poderão ser maiores do que podemos imaginar.

Podemos encontrar milhares de exemplos, um melhor (ou pior) do que o outro. O triste é que os maiores exemplos estão em nossas próprias vidas, em nosso próprio dia-a-dia.

Antes de estressar por algo que nos acontece precisamos entender as origens do problema. Precisamos descobrir quais foram as ações que desencadearam a situação atual.

Mais que isso, precisamos parar de gerar exemplos de problemas em nossas próprias vidas. Mas como fazer isso?

Devemos, antes de tudo, dar atenção imediata a tudo, a cada assunto, a cada situação. A análise imediata de todas as situações evitará problemas futuros. E não demora tanto quanto você pode estar imaginando, pois basta que verifiquemos o que podemos fazer de imediato e classificar as situações rapidamente.

Após a análise, descobriremos que há situações que exigem resposta imediata, que exigem reação e execução na hora em que se apresentam. São situações que devemos tratar de imediato.

Aproveitando, esqueça a palavra URGENTE: urgente é tudo aquilo que já deveria ter sido tratado e não foi no momento adequado. Se você acabou de perceber uma situação que requer reação imediata entenda que ela não é urgente. É, no máximo, importante.

Salvo exceções óbvias, nem uma doença é urgente: se você chega ao hospital com dor de estômago o hospital tratará a sua situação como urgente, pois para ele é assim, mas, você e eu sabemos, se você tivesse evitado este ou aquele alimento que você já sabia que não lhe cairia bem (e esse era o momento de reagir, não comendo), você não teria a urgência.

Então a urgência não existe, nada urge, tudo pode ser tratado dentro da normalidade.

Mesmo quando te passam algo para fazer "para ontem", isso não é urgente. Atenção e cuidado agora: a urgência é da pessoa que lhe passou, não sua. Você precisa é dar uma resposta imediata, trabalhar rapidamente, mas sem sentido de urgência. Nesses casos, normalmente o que nos é passado como urgente é aquilo que alguém já deveria ter feito e não fez, é aquilo que não foi tratado na hora certa por alguém e, agora, nos repassam para que façamos em menos tempo aquilo que tiveram muito tempo para fazer, mas não fizeram.

É necessária atenção agora, pois muitas vezes podemos passar tarefas "urgentes" para nossos subordinados... Eram urgentes alguns dias atrás? Tomamos todas as ações para resolver o problema antes de repassar? Será que não estamos evidenciando nossa incompetência, incoerência ou inabilidade para nossos subordinados?

Vivemos estressados por que temos urgências, por que deixamos de atuar quando devemos? Então que estresse é esse? É um estresse auto impingido. Trabalhamos contra nós, nos sabotamos, nos forçamos a atuar sempre contra o tempo.

O tempo não é nosso inimigo e não precisa ser tratado como tal. O tempo é, ao contrário, tudo que temos para agir. Se alocarmos mais coisas do que podemos fazer no espaço de tempo que temos, novamente a culpa não é do tempo ou do calendário, é nossa!

E essa consequência é o que vivemos hoje. 

Somos responsáveis (e culpados) pelas consequências de nossas vidas.

É possível sim viver sem urgências, é possível saber de nossa responsabilidade e agir para evitar as consequências, basta que tomemos a devida atenção. FAÇA AGORA!

* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)