O maior inimigo de todas as mídias
Fabio Arruda Mortara
Duas pesquisas recentes, realizadas por instituições de alta credibilidade, confirmam que as mídias impressas continuam firmes e fortes no gosto dos brasileiros, nesta era da internet e dos eletrônicos. O DataFolha indica que 59% dos leitores de livros e 56% de revistas optam pelas edições convencionais. No caso de jornais, 48% preferem acessá-los em computadores, tablets e celulares e 46% continuam fiéis às formas tradicionais.
Contudo, há um dado conclusivo e emblemático: 80% dos entrevistados afirmam que ler em papel é mais agradável do que em uma tela. Foram ouvidas 2.074 pessoas acima de 16 anos, em 135 municípios, de distintas regiões brasileiras. A amostra garante nível de confiabilidade de 95%, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos.
A pesquisa foi realizada para Two Sides, campanha mundial que chegou ao nosso país em 2014, para difundir a sustentabilidade econômica, social e ambiental da cadeia produtiva do papel e da indústria gráfica. O movimento, surgido na Inglaterra e já presente nos Estados Unidos, Canadá, África do Sul e Austrália, conta no Brasil com 42 entidades signatárias, que congregam cerca 80 mil empresas, geradoras de 615 mil empregos diretos e faturamento anual de US$ 40 bilhões.
Corroborando os resultados do DataFolha, a pesquisa Debate Digital 2013 – Emergência do consumidor digital multitarefas, realizada recentemente pela KPMG International, mostra que os brasileiros continuam priorizando o impresso em relação ao eletrônico. Dentre nove nações avaliadas, o Brasil foi a que mais gastou com a mídia tradicional (US$ 15 por mês, em média).
Desde a invenção da escrita, há cerca de 5.500 anos, na Mesopotâmia, nenhuma forma de comunicação foi extinta ante o surgimento de outras. Nesses mais de cinco milênios, continuamos escrevendo e tomando notas com canetas e blocos de papel. A imprensa, criada por Gutenberg, na Alemanha, há aproximadamente 460 anos, não sucumbiu ao rádio e ambos não desapareceram com o advento da televisão. E os três meios seguem firmes ao lado da internet, das redes sociais, dos e-books e outras maravilhas tecnológicas.
Em meio à discussão mundial sobre a pretensa concorrência entre impressos e eletrônicos, há um debate muito mais importante, nem sempre enfatizado nessa pauta tão atual: a educação! Pois bem, acabamos de sair da mais acirrada disputa eleitoral para a Presidência da República em toda a nossa história, na qual o tema foi objeto de enfática promessa, mas de tênues propostas. Depois de todos os debates, propagandas gratuitas no rádio e na TV, comícios e reuniões dos candidatos com representantes dos distintos setores produtivos e representações da sociedade civil, fomos às urnas sem saber exatamente o que cada um faria pela redenção do ensino.
Sabemos, como tanto se alegou na campanha eleitoral, que nos ciclos Infantil, Fundamental e Médio, que são a grande prioridade, a responsabilidade constitucional é de estados e prefeituras. Porém, a União não pode mais omitir-se. É preciso que se agreguem ao pacto federativo compromissos mais consistentes e metas muito mais ambiciosas do Governo Federal para que a escola pública garanta de fato a justiça das oportunidades e seja o grande fator de sustentação de um projeto de desenvolvimento socioeconômico inclusivo e sustentável. Nesse sentido, a indústria gráfica brasileira foi pioneira em propor a destinação de 10% do PIB à educação.
O recado das urnas foi claro. Os brasileiros querem um governo capaz de promover mudanças, e a principal transformação da história é aquela que começa nas salas de aula. Sem preconceitos, o saber dissemina-se nos livros e e-books; jornais e revistas impressos ou lidos nas telas dos computadores; cadernos ou tablets. Nenhum meio matará o outro, mas todos são ameaçados pelo fantasma da educação precária, que assombra as escolas públicas deste país. É esse espectro o maior inimigo das mídias. Por isso, precisamos exorcizá-lo com urgência.
* Fabio Arruda Mortara é presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (SINDIGRAF-SP), coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp, presidente da Confederação Latino-americana da Indústria Gráfica e country manager da Two Sides Brasil.