O papel do papel
Fabio Arruda Mortara
A comunicação, em todas as suas formas, tem missão civilizatória fundamental, que é a transmissão de conhecimento e informação e o estabelecimento de um arcabouço cultural que identifica o ser humano com seu tempo, seu espaço e a sociedade da qual faz parte. Nenhuma mídia cumpriu esse papel de modo tão amplo, abrangente e eficaz quanto a impressa, desde a invenção da escrita, na Mesopotâmia, há cerca de 4.500 anos, passando pelos copistas medievais, até os tipos móveis de Gutenberg, que, há cerca de cinco séculos e meio, deram escala, qualidade e velocidade ao processo e desencadearam a tecnologia, hoje de ponta, da indústria gráfica.
A verdade é que toda a história e o conhecimento acumulado pelo homem tiveram a tinta sobre o papel como sua grande base de registro, e tudo indica que continuará assim nesta era da internet, da cibernética e das incríveis mídias eletrônicas. Ao lado destas, o papel continua tendo papel civilizatório fundamental (sim, é uma feliz e emblemática coincidência que, nos idiomas português e espanhol, a palavra também signifique missão!).
Assim, contrariando previsões precipitadas sobre sua extinção, a comunicação impressa segue cumprindo sua missão de transmitir conhecimento, informação e cultura. É o que demonstra, de modo inequívoco, recente pesquisa da Nielsen BookScan, cujos resultados foram publicados pelo jornal britânico Financial Times: o número de livros impressos vendidos nos Estados Unidos em 2014 subiu 2,4%, alcançando 635 milhões de unidades. No Reino Unido, o setor encolheu 1,3%, mas a queda foi muito menor do que em 2013, quando as vendas retrocederam 6,5%. A performance do e-book tem ficado aquém das expectativas.
Segundo especialistas entrevistados pelo Financial Times, o crescimento da venda de livros físicos deverá manter-se nos próximos anos, pois os novos leitores parecem gostar cada vez mais do papel. A Nielsen indica que a maioria dos adolescentes entre 13 e 17 anos prefere livros impressos. Além disso, as vendas de títulos de ficção para jovens adultos cresceram 12% em 2014, mais do que as obras dirigidas aos adultos. Paul Lee, analista da Deloitte, que projeta que 80% das vendas de livros em 2015 serão de cópias físicas.
O estudo da Nielsen BookScan é coerente com pesquisa realizada em 2014 pelo DataFolha, que demonstrou: no Brasil, 59% dos leitores de livros e 56% de revistas optam pelas edições convencionais. No caso de jornais, 48% preferem acessá-los em computadores, tablets e celulares e 46% continuam fiéis às formas tradicionais. É interessante o fato de que 80% dos entrevistados brasileiros afirmaram que ler em papel é mais agradável do que em uma tela.
A pesquisa do DataFolha foi realizada para Two Sides, campanha mundial que chegou ao nosso país em 2014, para difundir a sustentabilidade econômica, social e ambiental da cadeia produtiva do papel e da indústria gráfica. O movimento, surgido na Inglaterra e já presente nos Estados Unidos, Canadá, África do Sul e Austrália, conta no Brasil com 42 entidades signatárias, que congregam cerca 80 mil empresas, geradoras de 615 mil empregos diretos e faturamento anual de US$ 40 bilhões. Trata-se de um trabalho voltado ao esclarecimento das virtudes e importância da comunicação impressa e à educação, informação e preservação ambiental. Intensificaremos as ações no sentido de mostrar aos brasileiros que cem por cento do papel produzido no País para atividades de impressão provêm de florestas plantadas.
Multiplicam-se estatísticas, estudos e pesquisas, em distintas regiões do Planeta, mostrando que a comunicação impressa está mais viva do que nunca. É o papel cumprindo seu papel na história e no desenvolvimento da humanidade.
* Fabio Arruda Mortara é presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (SINDIGRAF-SP), coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp, presidente da Confederação Latino-americana da Indústria Gráfica e country manager da Two Sides Brasil.