Por que as coisas não acontecem?
Thomaz Caspary ( In memoriam )
É o que muitos se perguntam e dificilmente tentam compreender as causas. É impossível fazer parte de um ambiente social ou de trabalho e não ter que enfrentar nenhuma espécie de conflito. Conflitos fazem parte das relações humanas e quando estas relações envolvem “problemas”, muitos fogem, para não enfrenta-los.
Tenho a impressão muitas vezes ao entrar em uma empresa de estar sentado na platéia de algum teatro, assistindo um “drama” se desenrolar. O mesmo acontece com muitos dirigentes de nossas indústrias, do comércio ou mesmo de empresas prestadoras de serviços, que assistem de camarote planejamentos fracassando em função do não envolvimento direto com a execução.
Uma das causas desta “contemplação” dos problemas é o estresse que vem cada vez mais, atingindo nossos pequenos e grandes empresários. A involuntária “indiferença” do dono da firma e a tendência aparentemente democrática de tornar estes problemas polêmicos colocando sempre a culpa nos “outros” que sempre levam a culpa de tudo o que acontece na indústria, loja ou hotel, me parece ser acima de tudo, um caso de falta de conhecimento de gestão empresarial.
Fazer com que aquilo que foi planejado para a empresa seja realmente executado é nos dias de hoje o maior desafio do empresário. Muitos gerentes e até consultores, apresentam soluções realmente factíveis e que pela experiência, trazem os resultados esperados. Infelizmente o empresário ou mesmo o diretor responsável pela área atingida pelos problemas, não tem o mesmo entusiasmo em “executar” as ideias propostas, em todos seus detalhes, até que apresentem os resultados desejados.
Será que nossos gerentes, diretores ou mesmo empresários conseguem assumir seu papel de “agente ativo?” Será que estes seres humanos, inteligentes e dotados de muita força de vontade conseguem abandonar sua postura atual, mediante a qual transferem a responsabilidade dos assuntos àqueles “misteriosos” outros que levam a culpa por tudo de errado que acontece na sua firma?
Outro dia “saquei” uma coisa em determinada empresa onde a execução das atividades planejadas por grupos de gerentes ou mesmo por consultores, era uma coisa “enfadonha” para o responsável e por isso deveria ser delegada. Delegar e não cobrar o que foi delegado é a primeira das razões porque as coisas não acontecem.
Os famosos planos e tarefas, não saem do papel. As Normas e Procedimentos, não são aplicadas. - Também... Ninguém controla! - Os dirigentes, chefes, gerentes, líderes em todos os níveis, precisam urgentemente se envolver pessoalmente nas atividades delegadas. Um gerente não pode ficar sentado em sua cadeira esperando que seus subordinados tragam resultados. Ele precisa urgentemente garantir para que o que foi pactuado no planejamento ou mesmo na observação das normas e procedimentos traga os resultados desejados.
A implantação de Boas Práticas ou da Gestão por Qualidade, só irá funcionar, se as metas e normas propostas forem cobradas pontualmente. A informação formal (por escrito em forma de relatórios, etc...) é uma condição básica para que se possam atingir as metas desejadas. O empresário, diretor ou gerente ao se envolver diretamente na execução, sabe se as pessoas certas estão nos seus devidos lugares e têm as condições básicas para desenvolver o trabalho que lhe foi delegado. Caso contrário, teremos a pessoa errada no lugar errado e nossa firma simplesmente vai “pro brejo!”.
Qual a solução imediata? Implantar sistemas de informação em todos os níveis, desde a telefonia e depois a área comercial, passando pelo pré-cálculo que deverá estar alimentado com dados corretos, tanto de produtividade, como de custos, preços de material e serviços de terceiros. Suprimentos deverão constantemente alimentar todos os setores envolvidos, com informações. O PCP diretamente ligado à área comercial desempenha também um papel importantíssimo na empresa e não deve ser delegado a qualquer um. O controle da produção, os relatórios de todas as áreas (Comercial, Produção e Finanças) além de um pós-cálculo diário, não é sofisticação nem despesa. É um investimento de retorno imediato.
Não há dúvida de que temos inúmeros conflitos na empresa, sejam de ordem pessoal, técnica, da qualificação da nossa mão de obra e mesmo, problemas familiares. Para resolver um conflito desta ordem, onde as coisas não acontecem, o empresário deve reconhecer os problemas e enfrenta-los. O gestor deve ser imparcial (o que muitas vezes não acontece por envolvimento pessoal com outros colaboradores) na hora de encontrar uma solução. Caso o próprio gestor faça parte do problema, é aconselhável trazer uma pessoa de fora que analisará o problema com maior isenção.
Saiba meu amigo, que nenhuma empresa vive permanentemente, num clima de guerra. Muitas pessoas dentro da empresa tendem a inflacionar a gravidade das coisas para chamar atenção e conseguir com isso uma “benção” favorável. O importante para o empresário, no entanto, é gerenciar em cima de fatos e não de opiniões.
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)