Porque nossas gráficas estão quebrando?
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Este texto tem por objetivo tratar de um problema muito sério pelo qual nossas empresas gráficas passam nestes últimos tempos e que têm origem em dois conflitos de interesses clássicos habitualmente identificados em gráficas, e que as afetam negativamente, seja em relação ao seu desenvolvimento, seja no que respeita o relacionamento pessoal entre os membros da direção da empresa.
O primeiro deles reside na "confusão patrimonial" que famílias empresárias costumam perpetrar em relação às empresas que controlam e administram. Ou seja, o comportamento por parte dos membros da família quanto a utilizarem bens e ativos da empresa em seus benefícios pessoais, em total desconsideração a princípios básicos de Direito e de governança empresarial.
O segundo é o conflito que costuma aparecer quando não há um delineamento claro entre como a empresa remunera o capital investido, ou seja, o que distribui a seus sócios a título de dividendos, e como remunera o trabalho de seus administradores e gestores, sejam eles familiares ou não. Esse conflito, clássico em qualquer tipo de empresa, costuma ser ainda mais profundo e delicado em empresas familiares nas quais alguns membros da família trabalham e outros não, especialmente em fases nas quais a empresa não tem lucro, ou precisa reinvesti-los em suas operações. Tal situação costuma resultar em desentendimentos familiares por vezes capazes de arruinar, na prática, a gráfica e a própria família.
E isto é só uma parte dos problemas encontrados nas gráficas. Infelizmente temos outra visão do que são grande parte dos donos de gráfica. Todo empreendedor, precisa entender que sua CAPACIDADE DE ENXERGAR O MERCADO profundamente, o que o que consumidor quer como ele quer, quando ele quer, quais os desafios do mercado, e principalmente como conceber ideias que realmente funcionam, coisa que infelizmente não acontece, pois não há embasamento para tal análise. Por outro lado falta também a informação com dados para análise, tanto internos como externos.
A falta de MÉTODOS passa a ser mais um problema detectado. Todo empreendedor ou gestor, tem a necessidade de compreender que para que as coisas deem certo, é essencial observar e CUMPRIR as regras do mercado, as regras sociais, bem como criar um conjunto de métodos, normas internas, com regras claras e concretas, das quais todas as pessoas envolvidas fiquem alertas quanto ao seu cumprimento, e sirvam de balizadores para que a empresa possa crescer cada dia mais.
A falta de RELACIONAMENTO é outro grande problema encontrado. Quem conhece a minha gráfica? Quem ainda não conhece que teria que conhecer? Qual grupo social eu tenho que participar para que realmente eu possa propagar meus produtos, serviços ou habilidades? O que mais eu posso fazer para participar desses grupos? Quando e onde vou começar a participar? O que me motiva a fazer isto? Aonde minha empresa deve estar e com quem ela deve estar? Como seria fazer um check list de publico alvo e de formadores de opinião que me oportunizasse ainda mais sucesso?
A FALTA DE ATITUDE também faz parte deste quadro que analisamos frequentemente. Muitas vezes o dono da gráfica tem todas as características positivas acima para o sucesso, entretanto, o grande “dificultador” é que a ZONA DE CONFORTO pesa visivelmente. Pesa e muito, pois as pessoas se acostumaram a fazer apenas o que elas gostam, e se esquecem de que pra fazer aquilo que você gosta, é sempre fundamental fazer primeiro, coisas que a grande maioria das pessoas não fazem, ou seja, sair da zona de conforto.
Pergunte a si mesmo: Aonde eu quero chegar mesmo, efetivamente? Qual a primeira coisa que eu devo fazer? O que eu vou fazer esta semana, passo a passo? O que eu vou fazer hoje? Quais resultados eu espero das minhas ações? Se não der os resultados que espero, qual meu plano B ou C? Etc.
Outro conflito de interesses, com implicações legais, em qualquer estrutura empresarial, seja ela familiar ou não, respeita à tomada de decisão para a destinação do faturamento e do lucro da empresa. Ou seja, deve-se privilegiar a distribuição de dividendos aos sócios, a remuneração dos administradores e gestores (familiares ou não), ou o reinvestimento dos lucros nas atividades empresariais?
Em termos de remuneração do capital investido (distribuição de dividendos aos sócios), temos que quando uma empresa obtém lucro, seus sócios, titulares de participações societárias, minoritárias ou não, seja na forma de cotas ou ações, devem auferir um retorno financeiro sob a forma de recebimento de dividendos, consubstanciado em vantagens patrimoniais, atribuídas às ações ou cotas, proporcionalmente a sua participação societária.
Note-se, igualmente, que o que pode e deve ser distribuído aos sócios a título de dividendos, é uma parcela do lucro líquido, ou seja, uma parte do resultado do exercício, subtraídos os prejuízos acumulados, se houver, pago o imposto sobre a renda e a contribuição social sobre o lucro líquido e ainda participações estatutárias dos empregados e administradores, se houver.
Finalizando nossa visão (enxuta) deste problema devemos esclarecer que importante é deixar clara a divisão entre o familiar que trabalha na empresa e o acionista. Ser da família não obrigatoriamente deve significar um emprego dentro da empresa. Outra grande dificuldade de gráficas familiares é lidar com a "sangria" de famílias que crescem mais que o empreendimento, que acabam tornado as empresas "cabides de emprego" e podem desestruturar a administração enxuta do negócio.
Vamos pensar nisso e, se não soubermos como agir corretamente, vamos procurar um especialista em gestão de empresas gráficas familia.
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)