02 de outubro de 2015
A agenda mundial da impressão e da comunicação
Os desafios apontados no Fórum Mundial de Impressão e Comunicação (WPCF) e a posição brasileira no cenário global
Ricardo Viveiros & Associados – Oficina de Comunicação
As informações e dados divulgados durante a reunião anual do World Print & Communication Forum (WPCF), encontro mundial promovido pela Federação Europeia para Impressão e Comunicação Digital (Intergraf) e que aconteceu em junho deste ano, indicam que a indústria gráfica global vive momentos de desafio.
Segundo a Organização das Nações Unidas, enquanto a produção industrial mundial cresceu 2,8% no primeiro trimestre de 2015 frente ao mesmo período do ano passado, a indústria gráfica encolheu 0,5% na mesma comparação.
Fatores estruturais, como a expansão da comunicação eletrônica, impactam negativamente o setor e exigem renovação. Na análise das tendências do mercado global, o segmento de embalagens tem sido (e deve continuar sendo) o mais promissor, enquanto a atividade editorial mostra o maior encolhimento.
Outra recomendação é que as empresas adicionem e agreguem valor aos produtos –a simples impressão já não é suficiente. Inovação, qualidade visual, apelo estético, técnica, funcionalidade, criatividade e acabamentos diferenciados podem surpreender positivamente os consumidores de produtos gráficos.
Desenvolvidos e emergentes
Apesar das questões conjunturais em comum, diferenças estruturais ditam desafios diversos.
Brasil¹ | Índia² | Europa² | EUA³ | China² | ||||
Estabelecimentos | 20.630 | 250.000 | 116.837 | 45.580 | 104.367 | |||
Empregos | 213.034 | 2.500.000 | 637.223 | 914.600 | 3.441.300 | |||
Empregos/estabelecimentos | 10 | 20 | 5 | 11 | 33 | |||
PIB gráfico (US$- Milhões) |
19.461 | 14.000 | 109.976 | 155.900 | 151.322 | |||
PIB/estabelecimento (US$- Mil) |
943,33 | 56,00 | 941,28 | 3.420,36 | 1.449,90 | |||
PIB/emprego (US$- Mil) |
91,35 | 5,60 | 172,59 | 170,46 | 43,97 | |||
Exportação - crescimento | 4% | - | - | -1% | - | |||
¹2014; ²2012; ³2013
Fonte: WPCF |
Na abertura dos dados mundiais de produção, há diferenças entre países emergentes e desenvolvidos. No primeiro trimestre, a indústria gráfica dos emergentes alcançou crescimento de 2,9%, enquanto a do segundo grupo encolheu 1,2%. Ainda assim, em ambos os casos, a performance do setor foi sensivelmente pior do que a produção industrial total (que teve crescimento de 5,3% e de 1,3%, respectivamente).
Os desafios diferem, inclusive de acordo com a estrutura produtiva de cada país. Índia e China, por exemplo, exibem indicadores de produtividade modestos em relação aos países desenvolvidos, mas provavelmente contam com mão de obra mais barata. O Brasil estaria em situação intermediária, com indicadores de produtividade melhores, mas arcando com custo elevado de mão de obra.
O tamanho das empresas é outra variável. Ao que tudo indica, Estados Unidos e China destacam-se por possuírem mais empresas de grande porte em número de funcionários, o que proporciona ganhos de escala, diferentemente do que ocorre no Brasil, que possui cerca de 90% de pequenas e micro empresas atuando no setor.
Nos Estados Unidos, o desafio tem sido agregar valor ao produto para não competir via preço. Além disso, discutem-se formas de melhorar o desempenho das empresas com maior engajamento dos trabalhadores. Treinamento e meritocracia são palavras-chave e avalia-se que empresas com melhor planejamento alcançam maior lucro. São discussões das quais o Brasil ainda está longe, devido à estrutura produtiva do setor e ao custo-país.
Em Portugal, o mercado interno deprimido e a concorrência mundial têm exigido um esforço de internacionalização – o que põe em evidência as recomendações para promover ganhos de escala e de eficiência, incluindo treinamento da mão de obra.
China e Brasil
A China é um caso fora da curva, uma vez que o crescimento da indústria gráfica supera o crescimento do PIB. Em 2013, enquanto o PIB chinês crescia 7,7%, o setor entregava alta de 9,3% na produção industrial, sendo que grande parte desses produtos destinava-se à exportação, inclusive para o mercado brasileiro.
O desafio chinês está voltado à estrutura produtiva do setor, que é extremamente concentrada, com 3% das empresas respondendo por 56% do PIB gráfico. Essa realidade facilita os ganhos de escala e os investimentos em tecnologia de ponta, como nanotecnologia e impressão 3D. Lá, também o governo tem investido em pesquisa e desenvolvimento desde o final da década passada, favorecendo a produtividade do setor. Além disso, o segmento de embalagens, justamente o mais resiliente, representa expressivos 75% da produção gráfica local.
Na avaliação da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), a realidade setorial brasileira distingue-se em vários aspectos da experiência mundial. Apesar de possuirmos maquinário e competência técnica compatíveis com os padrões internacionais, nosso desafio é aumentar a competitividade e enfrentar o custo-país, com busca de ganhos de eficiência, acesso a novos mercados via exportação e consolidação do setor.