18 de dezembro de 2013
Aceleração dos custos acentua dificuldades da indústria gráfica
Com projeções de crescimento já revisadas para baixo, a atividade vê a situação agravar-se com a aceleração de 4,3% dos custos de produção frente a julho/agosto
Ricardo Viveiros - Oficina de Comunicação
No terceiro trimestre deste ano, a indústria gráfica registrou seu oitavo resultado negativo na comparação com trimestres anteriores. A queda, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 5,4% frente ao segundo trimestre e levou a Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) a rever suas projeções para o setor em 2013. Dos nada otimistas -2,4% projetados anteriormente recuou a expectativa de crescimento para -5,6%.
A piora do ambiente econômico, o fraco desempenho no trimestre e a falta de expectativa de recuperação nesses três últimos meses do ano fundamentaram a decisão. O Índice de Custos de Fabricação de Produtos Gráficos (ISC) de setembro/outubro, apurado pelo Departamento de Estudos Econômicos da Abigraf com base em dados de FGV, Aneel e Datafolha, confirmam que o setor enfrenta dificuldades também com a aceleração dos seus gastos com insumos e mão-de-obra.
Fortemente dependente de insumos importados ou suscetíveis às variações de câmbio, a indústria gráfica viu seus custos de produção acelerarem 5,2% em relação a setembro/outubro de 2012 e 4,3% frente ao bimestre anterior (julho/agosto de 2013). O principal responsável pelas altas foram os insumos, que, alavancados pela depreciação cambial, subiram 4,4% ante igual período de 2012. Na mesma comparação, também a mão-de-obra ficou 7,3% mais cara para o setor. Na conta final, o segmento de embalagens foi o mais onerado, com aumentos entre 7% e 9%.
“O agravante dessa aceleração é que a indústria gráfica já vem atuando com margens deprimidas. Somos um setor fortemente capilarizado, em que a lei da oferta realmente impera – é uma concorrência perfeita, benéfica para o mercado, mas que exige um delicado equilíbrio por parte das empresas para a manutenção das suas margens”, afirma Fabio Arruda Mortara, presidente da Abigraf e do Sindicato da Indústria Gráfica no Estado de São Paulo (Sindigraf-SP).
Segundo Mortara, para 2014, diante da falta de perspectiva de mudanças macroeconômicas, a indústria gráfica não prevê crescimento, devendo fechar o ano com resultado 1,7% inferior a 2013. Apesar das expectativas nada otimistas, o setor continua investindo para manter o parque gráfico atualizado. Entre janeiro e novembro deste ano, conforme dados do MDIC/Secex, a indústria importou US$ 1,08 bilhão em máquinas e equipamentos – apenas 4,7% menos do que em igual período de 2012.
Lembrando que 2014 é ano de eleições, Mortara defende que a indústria gráfica redobre sua articulação. “Precisamos pressionar para que as reformas política, tributária, trabalhista, previdenciária e judiciária saiam do papel. É preciso diminuir o intervencionismo e restabelecer um ambiente menos hostil aos negócios”, pondera o presidente da Abigraf e do Sindigraf-SP.
Entre as realizações que prometem ocupar lugar de destaque nas agendas das duas entidades no próximo ano, ele destaca ainda o fortalecimento do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem, criado na Fiesp e que já conta com a adesão de 39 entidades, e o lançamento no Brasil da campanha Two Sides, movimento já presente em quatro continentes e que tem como objetivo desfazer mitos e propagar a sustentabilidade da comunicação impressa.
Balança comercial: déficit aumenta em relação a 2012
Apesar dos bons resultados em três segmentos, o saldo deficitário é 6% maior do que no ano anterior
De acordo com o Departamento de Estudos Econômicos da Abigraf, com base em dados do MDIC/Secex de janeiro a novembro deste ano, a indústria gráfica exportou US$ 258,8 milhões e importou US$ 511,9 milhões, correspondentes a 82,1 mil e 94,7 mil toneladas de produtos, respectivamente. O resultado é um déficit no saldo comercial de US$ 253,1 milhões, 6% maior do que em igual período de 2012.
No acumulado do ano, o segmento que mais exportou em termos monetários foi o de embalagens – US$ 99 milhões e 61,6 toneladas, que respondem por um aumento de 0,5% no volume exportado, em relação ao mesmo período de 2012. Pela ordem, os principais compradores foram Venezuela (22%), Uruguai (18%) e Argentina (9%).
Cartões impressos foi o segundo com melhor desempenho monetário. Respondeu por 35% do total exportado no ano, equivalentes a US$ 89,7 milhões e 761 toneladas. Apesar disso, o acumulado revela queda de 7,5% ante janeiro a novembro de 2012. Argentina (24%), Chile (17%) e Equador (12%) constituíram os principais destinos dos cartões brasileiros.
Inversamente, o segmento de cadernos, terceiro maior exportador do setor, com 11,3% do total, teve performance monetária 2,9% superior em relação ao mesmo período de 2012. Suas exportações somaram US$ 29,3 milhões e 16.6 mil toneladas. Estados Unidos (71%), Porto Rico (6%) e República Dominicana (4%) foram os maiores compradores.
No outro extremo da balança, as importações do setor vêm sendo capitaneadas pelo segmento editorial (livros e revistas), com 33% do total, equivalentes a US$ 170,2 milhões e 25,8 mil toneladas – monetariamente é 3,8% inferior ao realizado no mesmo período de 2012. China (28%), Hong Kong e Estados Unidos (com 15% cada) foram os principais beneficiados com essas importações. O segmento de cartões é o segundo do ranking de importadores, com 25% do total, correspondentes a US$ 102,1 milhões e 902 toneladas – -6,4% ante igual período de 2012, em termos monetários. As principais origens dos produtos importados por esse segmento foram Suíça (38%), Estados Unidos (26%) e França (9%). Embalagens é o terceiro principal importador, com 20% do valor total. As empresas do segmento transacionaram no período US$ 128,8 milhões e 54,8 mil toneladas – 7,1 mais do que de janeiro a novembro de 2012. Seus principais fornecedores internacionais são China (34%), Alemanha (13%) e Espanha (10%).