A Importância Cultural da Gravura para a Indústria Gráfica
Fabio Mestriner
“A diferença dos grandes profissionais é que eles sabem mais sobre a profissão a que se dedicam do que os profissionais comuns”. A frase foi a resposta dada pelo cirurgião real da coroa britânica quando perguntado qual era a diferença entre o cirurgião real e os demais cirurgiões. Em sua resposta ele afirmou que o grande cirurgião, além de executar com precisão as cirurgias, deve saber mais sobre cirurgia que os cirurgiões comuns.
O conhecimento sobre a profissão torna mais qualificado o trabalho do profissional e amplia os horizontes de sua atuação. Aqueles que desejam ir mais longe em seu trabalho precisam conhecer a história, a evolução e as grandes conquistas da atividade que escolheu, assim como o trabalho dos grandes mestres que ajudaram a forjá-la. Só assim se tornará parte do grupo que faz com que a profissão permaneça viva e em constante evolução.
Uma vez me disseram que os pilotos dos aviões da Lufthansa passam por treinamentos periódicos onde reciclam e atualizam seus conhecimentos para se manterem no topo de sua atividade. Nestes treinamentos eles também voam em planadores para não perderem a capacidade de conduzir uma aeronave sem motor, afinal, mesmo com toda a tecnologia disponível, um piloto de avião ainda deve saber voar.
Neste momento em que o setor gráfico atravessa grandes transformações tecnológicas, os profissionais do setor estão enfrentando novos desafios, pois cada vez mais os equipamentos estão repletos de dispositivos eletrônicos e a impressão digital veio para ficar.
A introdução deste artigo serve para lembrar que um gráfico, mesmo trabalhando com equipamentos eletrônicos e digitais, não deve abrir mão do conhecimento fundamental que fez desta, uma das mais importantes profissões para o progresso da humanidade.
O conhecimento da Gravura e de sua contribuição para a cultura, tanto das artes gráficas quanto da sociedade como um todo, deve estar entre as preocupações daqueles que desejam se tornar grandes profissionais, pois é ela que está na matriz de tudo o que é feito no setor.
Gravar uma matriz, entintá-la e transferir a imagem nela gravada para o papel, constitui a essência desta atividade. Este procedimento resistiu à passagem dos séculos e chegou até nossos dias com poucas alterações, pois seus fundamentos permanecem.
Desde que os monges budistas na China começaram a produzir impressões com uma matriz de madeira gravada por volta do ano 670, até as mais modernas impressoras, ainda gravamos uma matriz, aplicamos sobe ela a tinta e a pressionamos contra uma folha.
A gravura em madeira, pedra ou metal, desempenhou fundamental importância no desenvolvimento da arte e na difusão do conhecimento que transformou a sociedade e o mundo em que vivemos. Sua história riquíssima em acontecimentos e personagens merece ser conhecida e suas práticas artísticas precisam ser prestigiadas tanto pelo setor quanto pelos profissionais que o constituem, pois é ela que mantém viva a alma das artes gráficas.
As escolas profissionais, de design, artes plásticas, arquitetura e desenho ainda mantêm ateliês que ensinam as técnicas básicas da gravura, museus e pinacotecas mantêm alguns cursos e ateliês, existem clubes de colecionadores e galerias de arte ativos no segmento, mas esta atividade precisa ser promovida para se manter viva e continuar evoluindo.
Uma gravura artística, assinada por um artista reconhecido, é a forma de maior valor que uma folha de papel pode atingir, pois existem gravuras que alcançam valores de dezenas de milhares de dólares. Nem o dinheiro impresso em papel moeda, alcança valor semelhante.
A cultura da gravura é importante para o setor e deve merecer de todos os que nele atuam, ou dos que tem afinidade e amor pelas artes gráficas, uma grande consideração e respeito, pois o futuro desta atividade passa pela valorização da sua história e da contribuição que ela deu para o desenvolvimento da cultura da sociedade humana.
A essência de uma atividade contém o DNA que permite que ela se reproduza, atividades e profissões extintas começaram a morrer quando abriram mão de sua história e deixaram de cultivar os fundamentos que a fizeram existir.
* Fabio Mestriner é Professor Coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem ESPM; Professor do Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Embalagem da Escola de Engenharia MAUÁ; Coordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da ABRE (Associação Brasileira de Embalagem); e autor dos livros Design de Embalagem Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem.