Como escolher por um processo de impressão?
Uma das maneiras mais eficazes de se classificar os processos de impressão é a partir da forma e do tipo de funcionamento da matriz que cada um destes processos utiliza. Assim, temos cinco grandes sistemas de impressão:
Planografia: Nos processos planográficos, não há qualquer relevo que determine a impressão: a matriz é plana. É através de fenômenos físico-químicos de repulsão e atração que os elementos utilizados (tintas, água) se alojam nas áreas gravadas para sua reprodução no suporte (papel). O offset é um processo planográfico, assim como a litografia.
Offset: Sistema de impressão indireta que se baseia no princípio de que água e gordura não se misturam. Utiliza como suporte todos os tipos de papéis e alguns plásticos flexíveis. As máquinas offset podem ser planas ou rotativas. As planas rodam folha por folha, oferecendo melhor qualidade; ideal para impressão de cartazes, folders, livros, panfletos, folhetos. Já as rotativas, utilizam papel em bobina; ideal para trabalhos de grande tiragem como jornais e revistas.
O offset é o principal processo de impressão desde a segunda metade do século 20, garantindo boa qualidade para médias e grandes tiragens e praticamente em qualquer tipo de papel e alguns tipos de plástico (especialmente o poliestireno). Processo planográfico, originário da litografia, ele faz uma impressão indireta: há um elemento intermediário entre a matriz e o papel, que é chamado de blanqueta. A imagem que está na matriz (que é metálica e é simplesmente chamada de chapa) é transferida para um cilindro coberto com borracha (a blanqueta) e, daí, para o papel. Em resumo: a matriz imprime a blanqueta e esta imprime o papel. O termo offset vem da expressão offset litography- que, ao pé da letra, significa litografia fora-do-lugar, fazendo menção justamente à impressão indireta (na litografia, a impressão era direta, com o papel tendo contato com a matriz).
Na segunda metade dos anos 1990, o offset passou a contar com um aperfeiçoamento fundamental: as máquinas dotadas de sistemas CTP (computer-to-press), que permitem a entrada dos dados de arquivos digitais diretamente na impressora, onde é feita a gravação das chapas e dispensando fotolitos. Apesar de pouco adequado, esta modalidade do processo tem sido chamada de offset digital.
Há seis elementos básicos no mecanismo do offset: a chapa, a blanqueta, o suporte (seja papel ou outro), o cilindro de pressão (que pressiona o papel contra a blanqueta), a tinta e a água.
O princípio da impressão é a repulsão entre a água e a gordura, que não se misturam. Por isso a matriz é plana: não é preciso relevo algum para que a tinta (que é gordurosa) se aloje nas áreas cravadas com as imagens que devem ser impressas, pois a umidade - que se aloja nas demais áreas - impede que ela se espalhe e "borre" estas imagens. Logicamente, é preciso regular a impressora para que as quantidades de tinta e de água sejam adequadas para que o mecanismo funcione devidamente.
Entintada, a chapa imprime a imagem na blanqueta e esta a transfere para o papel. A tranferência é garantida porque o papel é pressionado contra a blanqueta graças ao cilindro de pressão. A blanqueta é o grande segredo da qualidade da impressão obtida: a imagem impressa no papel fica mais nítida porque a blanqueta trata de conter excessos de tinta; a chapa tem uma durabilidade maior porque seu contato direto é com a superfície mais flexível da borracha; finalmente, o papel resiste bem ao processo porque não tem contato direto nem com a umidade nem com a maior quantidade de tinta da chapa (por ser viscosa, a tinta tenderia a fazer o papel aderir à chapa, rasgando-o).
Embora possibilite uma excelente qualidade de impressão, o mecanismo como um todo é em realidade frágil. Ele é instável: são necessários reajustes frequentes durante a impressão, para manter níveis adequados de tinta e umidade, tanto para evitar falhas e borrões quanto para manter a maior uniformidade possível nos tons das cores ao longo da tiragem. Há ainda outros "perigos". O excesso de carregamento da tinta, já citado anteriormente, leva à decalcagem: a imagem impressa numa folha mancha ou cola o verso da folha seguinte pelo excesso de tinta, que, como observado, é viscosa. O excesso de umidade, por sua vez, poderá atrasar a secagem dos impressos (especialmente em nosso clima, que é naturalmente úmido). Retirar o material da gráfica sem que ele esteja devidamente seco é garantia de decalcagem e, consequentemente, de perda da tiragem. Um bom operador e um bom acompanhamento gráfico, todavia, têm como evitar estes problemas.
Offset Digital: Semelhante ao offset, esse processo possui duas características básicas. Primeiro, imprimi sem a utilização de água; segundo, utiliza uma espécie de platesetters embutida no maquinário (entrada digital de dados – direto do computador para a impressora offset) – sistema conhecido como CTP - computer-to-press.
A utilização do termo Offset Digital é discutível; alguns profissionais utilizam o termo offset seco. O importante, entretanto, é que a tecnologia impede problemas de registro, impede a variação das tonalidades das cores no decorrer das tiragens e mantém a relação custo x benefício: quanto maior a tiragem, menor o custo unitário.
Eletrografia : A matriz é plana como nos processos planográficos, porém as áreas que serão impressas são determinadas, seja na matriz ou no próprio suporte, a partir de fenômenos eletrostáticos - e não físico-químicos. É o caso de processos recentemente desenvolvidos para a produção industrial, como a impressão digital, a eletrofotografia e a xerografia. A terminologia para estes processos ainda não está consolidada, sendo referidos também como processos digitais, processos eletrônicos etc. devido ao fato de que os originais se constituem em dados informatizados, com entrada via computador.
Impressão Digital: Impressão feita de forma eletrônica. Através de impressoras laser, os arquivos de dados vão direto para o papel. Esse processo possibilita a impressão de trabalhos em pequenas quantidades, sem usar fotolitos ou chapas.
Duas grandes desvantagens desse sistema são: a qualidade de impressão inferior aos processos tradicionais e o inconstante gerenciamento de cores.
Permeografia: Impressão realizada mediante uma matriz permeável. Os elementos que serão impressos são formados por áreas permeáveis ou perfuradas da matriz, como na serigrafia.
Serigrafia: Sistema de impressão direta, também conhecido como silkscreen. Utilizando uma tela permeável de finíssimos fios sintéticos (seda ou náilon), pode-se imprimir em variados suportes: metais, cerâmica, tecidos, cartões, papéis ásperos, vidros e plástico. A serigrafia manual é típica na impressão de cartazes lambe-lambe. Mas a serigrafia é muito utilizada para impressão de materiais para sinalizações de ruas, papéis de parede, eletro-eletrônicos, reproduções de grande formato e rótulos de CD.
A qualidade da impressão depende da densidade da tela, do equipamento, da qualificação da mão-de-obra e do original a ser reproduzido. Pode-se conseguir uma impressão de baixa, média ou alta qualidade para pequenas e médias tiragens.
Atualmente, a impressão digital como plotters de tinta ou corte eletrônico vem substituindo o uso da serigrafia na impressão de materiais para sinalizações e de cartazes de baixa tiragem.
Relevografia: Impressão realizada mediante matriz em alto relevo. Os elementos que serão impressos ficam em relevo na matriz e são entintados, imprimindo mediante pressão sobre o suporte. É o mesmo princípio dos carimbos. A flexografia e a tipografia são processos relevo-gráficos.
Tipografia: Criado por Gutenberg (entre 1445 e 1453), é o método mais antigo de impressão direta, dominando o cenário da reprodução gráfica por quase cinco séculos. É a arte de imprimir e compor com tipos (pequenos blocos metálicos que contém um caracter em relevo). Montados lado-a-lado, esses tipos compõem o texto, formando a matriz (rama) para impressão. Já as imagens são reproduzidas através de clichês (traço ou meio-tom) metálicos ou de plástico (século 20). A partir do século 19 os tipos móveis foram substituídos pela linotipo, assim, as ramas passaram a ser compostas por linhas inteiras, agilizando um pouco a reprodução de jornais, livros e revistas. Atualmente, a tipografia é utilizada em gráficas de baixo custo para a confecção de impressos padronizados (notas fiscais, talões de pedidos, formulários numerados), peças com pouco texto (convites, cartões de visitas) e também para acabamento em materiais.
Flexografia: Processo de impressão direta originado dos EUA, por volta de 1853. É muito utilizado para impressão de embalagens por apresentar custo baixo para grandes quantidades de impressão em suportes irregulares, tridimensionais e flexíveis como celofane, folhas metálicas, plásticos e vidros. As impressoras flexográficas utilizam sistema similar ao tipográfico, entretanto, elas realizam praticamente todas as etapas de acabamento como plastificação, recorte, dobra e colagem. A flexografia é indicada para impressos a traço pois apresenta rendimento insatisfatório para impressão de meios-tons (retículas). Entretanto, a era digital vem colaborar e desenvolver o sistema flexográfico de impressão, garantindo cada vez mais a qualidade da impressão.
Encavografia: Utilizando justamente o mecanismo inverso ao da relevografia, baseia-se numa matriz em baixo relevo. Os elementos que serão impressos são formados por sulcos em baixo relevo na matriz, que armazenam a tinta que será transferida para o papel ou outro suporte mediante pressão. É o caso da rotogravura.
Rotogravura: Sistema de impressão direta, desenvolvido na Alemanha por volta do século XIX. Recomendado para projetos gráficos de altas tiragens e que exige grande qualidade na impressão.
Com uma alta velocidade de impressão e com qualidade uniforme, a rotogravura imprimi nos mais diversos suportes: papel, papelão, tecido, metal (lataria). Sendo muito utilizada para impressão de rótulos e embalagens, revistas, livros didáticos, livros de arte e impressos de luxo.
COMO ESCOLHER O PROCESSO
Embora em grande parte dos casos em design gráfico a opção seja o offset, esta decisão não deve ser um procedimento "automático". Para definir o processo, devem ser levados em conta parâmetros que envolvem não apenas a qualidade final do impresso requerida pela situação de projeto, mas também custos, prazos e operacionalidade da produção. Assim, devem ser levados em conta:
01. As deficiências e vantagens apresentadas pelo processo e sua adequação às necessidades do projeto. Se é indispensável a reprodução de fotos, por exemplo, alguns processos são imediatamente descartados, pois apresentam deficiências neste aspecto.
02. A tiragem. Se bastam 500 exemplares, alguns processos devem ser deixados de lado, pois só se tornam viáveis para tiragens maiores ou mesmo apenas para altas tiragens.
03. O custo médio do processo - o que em geral está diretamente ligado à tiragem. Alguns processos apresentam um alto custo fixo (para a produção da matriz, por exemplo), que só se compensa com uma tiragem grande. Este custo, então, fica diluído pelo custo unitário de cada exemplar, apresentando uma boa relação custo x benefício. Se a tiragem for baixa, no entanto, eles levam a um aumento injustificável do custo.
04. O suporte que será utilizado (papel, papelão, vinil etc.) Nem todos os processos são adequados a qualquer suporte.
05. A oferta e a operacionalidade de fornecedores. Um processo pode se revelar o mais adequado, mas se não houver uma gráfica que possa viabilizá-lo, por questões de preço, localização ou equipamentos, não terá como ser utilizado.
06. O conhecimento prévio do processo ou ao menos a possibilidade de obter este conhecimento antes da projetação ou, ao menos, do processo de produção. Se quem produzirá ou acompanhará a produção não conhece o processo, talvez seja melhor não arriscar.
07. A usabilidade. É preciso levar em conta se o resultado será adequado ao uso que se pretende dele. Um caso típico de má administração desde tópico é a aplicação do corte eletrônico para a implementação de placas de sinalização afixadas ao alcance do usuário em situação de tensão ou ócio - como em terminais de transportes, salas de espera etc. O processo utilizado torna-se um elemento facilitador para a degradação do produto, embora possa ter produção mais rápida, custo mais baixo e aparência mais "moderna" (cf. Mouthé, Claudia. Mobiliário urbano. Rio de janeiro: 2AB, 1998).
A RELAÇÃO CUSTO BENEFÍCIO
A regra fundamental em qualquer investimento é a relação custo x benefício: o custo só pode ser considerado alto ou baixo se comparado ao benefício que ele traz. Assim, um custo monetariamente baixo pode tornar-se alto porque o benefício que ele trará será insignificante, ou mesmo acarretará prejuízos posteriores. Em contrapartida, uma opção de investimento mais cara pode trazer benefícios significativos a curto ou a médio prazo - e, assim, este custo se revela efetivamente baixo. O mesmo raciocínio deve ser aplicado na produção gráfica.
Um exemplo são os processos eletrográficos. Eles têm como característica o alto custo da cópia unitária, em contraposição a processos mecânicos (como o offset). No entanto, são mais rápidos e dispensam fotolitos e matrizes físicas, o que pode compensar, nas baixas tiragens, este custo unitário maior. É o raciocínio da pequena escala.
Outro exemplo, muito comum: é necessário valorizar o impresso, mas sem aumentar custos. A opção mais convencional é a policromia sobre papel couché, que tem custo alto mas resultado garantido. Uma alternativa, neste caso, é a impressão em duas cores sobre um papel diferenciado, seja pela textura ou pela cor. A relação custo x benefício é melhor: o benefício pode ser semelhante, mas a um custo mais baixo.
É necessário assim ter em vista a heterogeneidade dos processos disponíveis e sua adequação a cada caso. Há hoje muitos processos, insumos e recursos de acabamento disponíveis, e a combinação entre eles pode trazer excelentes resultados por custos relativamente baixos. Desta forma, qualquer processo de reprodução gráfica deve ser levado em conta se ele apresentar uma boa relação custo x benefício.
Referências Bibliográficas
BAER, Lorenzo. Produção Gráfica. São Paulo: SENAC São Paulo, 1999
OLIVEIRA, Marina. Produção Gráfica para designers. Rio de Janeiro: 2AB, 2000
Fonte: paulocinti.files.wordpress.com/2008/02/sistemas1.doc - Acesso em 01 de dezembro de 2012.