Novos hábitos de consumo exigem novas embalagens
Fabio Mestriner
Há pouco tempo, a indústria de produtos de consumo percebeu que a aceleração da vida moderna, provocada pelas novas tecnologias, criou um novo consumidor que se caracteriza fundamentalmente pela falta de tempo. O tempo passou a ser o bem mais precioso e a falta dele é a queixa mais frequente dos profissionais de hoje.
Esse contingente urbano, plugado no mundo e preocupado com sua “empregabilidade”, corre o dia todo e noite a dentro, de um lado para o outro, tentando manter-se no foco. Sem tempo nem para se alimentar direito, devido à dupla jornada de trabalho, esse novo consumidor também estuda, frequenta academia, faz curso de inglês, MBA, pós, mestrado e assim por diante.
A alimentação entre uma jornada e outra é feita em trânsito; nunca se viu tanta gente comendo em pé, andando, dirigindo, no metrô e nos ônibus. Perceber mudanças de comportamento, hábitos e atitudes, sempre foi a arma secreta das indústrias de ponta e mais uma vez elas saíram à frente, ajustando ou criando produtos focados nas necessidades desse consumidor sem tempo para nada.
Na indústria de alimentos vemos surgir novidades como o café que esquenta na própria lata, apertando-se um botão no fundo da embalagem. Os snacks ganharam um pote plástico que permite despejar o produto diretamente na boca sem sujar os dedos, nem o volante, nem o teclado, nem o celular…
Tenho colecionado uma dezena de exemplos de produtos que atendem a essa necessidade e suas variantes derivadas, por exemplo, de produtos e embalagens geradas pelo sentimento de “não estar se alimentando corretamente” que este tipo de consumo provoca nas pessoas.
Esse sentimento tem provocado um aumento expressivo do consumo de sucos naturais prontos para beber e de bebidas lácteas que podem ser levadas na bolsa ou encontradas nas vending machines e nas mesas de bares e lanchonetes, como alternativa aos refrigerantes.
Além das frutas, os legumes também entram nessa vertente aparecendo agora combinados com as frutas como suplemento alimentar de “melhor qualidade”, segundo a percepção dos consumidores. O suco de acerola combinado com cenoura que pode ser pedido na academia ou na cantina da escola é um exemplo desse tipo de demanda. Outro produto derivado dessa percepção são as barrinhas de cereais cujo consumo disparou.
E, finalmente, os biscoitos que são o equivalente ao “pão de cada dia” no mix que mencionamos. Já contém o leite, as frutas, os legumes e cereais. Esses produtos ganharam uma nova embalagem, de porção individual, cujo sucesso tem obrigado os fabricantes a incluírem essa alternativa portátil em suas linhas.
Os tradicionais wafers também se renderam a essa nova tendência. Não é fácil comer um wafer em trânsito, no carro ou sobre uma mesa de trabalho, pois não é possível enfiar o biscoito inteiro na boca e, ao mordê-lo, não conseguimos evitar a queda de migalhas. Por isso, a solução foi criar mini wafers que podem ser colocados na boca de uma só vez.
O novo saquinho flexível que fica em pé completou o conjunto. É como comer pipoca sem sujar os dedos. Novos hábitos exigem novos produtos e embalagens que atendam a esse novo consumidor. A indústria, de um modo geral e a indústria de embalagem especialmente, tem muito a ganhar acompanhando a evolução da sociedade humana e de seus hábitos de consumo, como confirmam o sucesso desses novos produtos.
Fonte: www.bdxpert.com - Acesso em 25 de novembro de 2012
* Fabio Mestriner: é Professor Coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem ESPM, Professor Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Gestão da Indústria Gráfica na Sustentare Escola de Negócios, Coordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da ABRE Associação Brasileira de Embalagem e Autor dos livros Design de Embalagem Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem