Onde estão os nossos profissionais?
Thomaz Caspary ( In memoriam )
Nas últimas semanas, aliás, como faço sempre, tenho visto os classificados nos principais jornais, e reparei que determinadas funções na indústria gráfica, são repetidamente procuradas a cada semana pelas mesmas empresas. São impressores para flexografia e offset para máquinas modernas, pessoal de qualidade, orçamentistas, coordenadores de PCP, vendedores com conhecimento técnico de artes gráficas, etc... Será que não temos estes profissionais disponíveis no mercado? Já se foi o tempo, em que os assuntos de contratação de funcionários eram da alçada do departamento de RH. Infelizmente na maioria de nossas gráficas nem existe este departamento, e quando o temos, ele se limita à área de Folha de Pagamento e problemas da prática trabalhista. Infelizmente não temos pessoal devidamente treinado, para fazer um RH completo, que cuida globalmente dos aspectos da área. Isto, infelizmente só acontece nas grandes empresas gráficas, que têm por obrigação, manter um profissional qualificado cuidando desta área.
Hoje em dia, a carência de profissionais competentes é a terceira maior preocupação do empresário gráfico, perdendo apenas para a alta carga tributária e a competição entre concorrentes, vista que, nem profissionais competentes de custos e vendas, conseguem-se contratar para nossas gráficas. Queixamo-nos constantemente da falta de mão de obra qualificada, com reais conhecimentos da profissão, seja lá para que área da gráfica, necessitamos do elemento. Além dos jornais, existem diversos sites do ramo, como por exemplo, o da ABTG, CALCGRAF, GUIA DO GRÁFICO, ANCONSULTING (para cargos específicos) e outros, além dos Sites de Relacionamento Profissional. Coloco muitos anúncios procurando profissionais para meus clientes e recebo centenas de currículos. Infelizmente 90% dos currículos recebidos, não preenchem as mínimas condições necessárias requeridas, sejam elas de conhecimento técnico ou de experiência anterior. 10% no entanto, são profissionais que trabalham atualmente em empresas e procuram um upgrade salarial.
Na verdade, caro amigo gráfico, emprego existe bastante. O que não temos é profissional em quantidade suficiente, devidamente preparados para as novas tecnologias. E o pior: quando estão preparados e tem conhecimento suficiente para preencher a vaga, o dono da empresa não valoriza este conhecimento e quer pagar pouco. "Certamente se este empregador admitir um ajudante de operador, como operador, pois paga menos, podemos escrever já: "Baixa Produtividade, Desperdício, Refação de Trabalhos, etc." Portanto, devemos colocar na cabeça do empresário que para ter um bom funcionário, ele terá que pagar o salário justo que não se compõe só dos vencimentos mensais, más e principalmente, de participação na lucratividade do serviço executado, fator este que começa a ser medido e aplicado em muitas empresas fora do ramo gráfico. É o conhecido PPR (Plano de Participação nos Resultados) que mede o desempenho de cada funcionário em sua área de atuação, levando em conta entre outras coisas, a produtividade, o absenteísmo, a economia de material, ou melhor, a redução de desperdício, entre outros itens, sendo que para isso deverá ser implantado este sistema, que é acordado inclusive entre sindicatos patronais e de trabalhadores. Antes, porém da implantação deste sistema, necessitamos treinar o pessoal, implantando as Boas Práticas de Fabricação e Gestão (GMMP) que nada mais são do que Normas e Procedimentos em TODAS as áreas da gráfica. Gostaria de lembrar ao empresário gráfico, que esta metodologia não é atrelada somente a grandes empresas e sim, já para o micro e pequeno empresário, que sem Normas e Procedimentos em todas as áreas, a começar por vendas, não conseguirá vencer a concorrência.
Devo lembrar que houve época em que bastava que o funcionário tivesse competência técnica sendo que hoje a coisa vai mais além. O QE (Quociente Emocional) é também de grande importância, principalmente junto aos encarregados de setor, pois deve haver muita sensibilidade, para que haja um trabalho em equipe. Ninguém faz mais nada sozinho. Os funcionários terão que ter facilidade de estabelecer e sustentar relacionamentos com seus colegas e superiores e ter habilidade de se colocar no lugar dos outros. Os chefes, capacidade de ouvir seus subordinados e saber fazer perguntas inteligentes. O ser humano nos dias de hoje, com o avanço da tecnologia, não consegue mais saber tudo. Terá que se aconselhar também com seu subordinado, além de fazer constantemente treinamentos, nos cursos e palestras dadas por escolas (como o SENAI) associações (como a ABTG e a ABIGRAF/SINDIGRAF) e fornecedores. Podemos também nos assessorar com um consultor de empresas que conheça bem o nosso ramo de atuação. Certamente isto não representará custo e sim, um bom investimento.
Uma grande saída para a gráfica é fazer treinamentos "In Company", ou seja, trazer especialistas de fora (de seus fornecedores) ou mesmo consultores do ramo, para fazer primeiro uma análise de onde estão os problemas e posteriormente um "upgrade" na equipe. Também a ABTG oferece este serviço. Um dos maiores problemas que encontramos é naturalmente o conhecimento básico escolar do educando, pois por contingências de nosso país, muitos não conseguiram estudar e nem completar a escola básica. Estamos no início de um "apagão" profissional e o treinamento interno é uma das armas para reter talentos devendo este "upgrade" ser devidamente reconhecido monetariamente, desde que haja um verdadeiro ganho de produtividade, redução de erros e desperdício, bem como do aumento da rentabilidade da empresa. Para isso, necessitamos de ferramentas de mensuração que existem no mercado.
Nas micro e pequenas empresas, temos que iniciar pelo dono da gráfica (que sempre fez assim e até hoje deu certo?). Hoje em dia, com a acelerada mudança tecnológica em todas as áreas, inclusive da administração empresarial, recomendamos ao dono destas pequenas gráficas um pouco mais de humildade, pois os seus filhos e netos, certamente estão ou estarão em cursos superiores, podendo aliar os novos conhecimentos adquiridos, à experiência dos mais velhos. Tudo depende do QE, ou seja, de um bom papo entre as gerações. - Boa sorte!
* Thomaz Caspary ( in memoriam ) foi Consultor de Empresas, Coach e Diretor da Printconsult Consultoria Ltda. (São Paulo - SP)