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28 de novembro de 2013

Juro alto é um placebo amargo

Fabio Arruda Mortara

Esgotada e inútil enquanto medida isolada de controle inflacionário e nociva para o prioritário objetivo de estímulo ao crescimento do PIB, a política de juros altos, mantida pelo Copom em sua última reunião do ano de 2013, no dia 27 último, é um placebo amargo para a economia e a sociedade. A primeira e séria consequência negativa da Selic elevada ao longo do ano, independentemente da sua pequena variação em novembro, é o agravamento dos gastos relativos ao serviço da dívida interna, dificultando o cumprimento das metas de superávit fiscal, já muito comprometidas.

Ante a estratégia de elevação dos juros adotada este ano pelo Copom, é pertinente lembrar e analisar a recente pesquisa internacional realizada pela Bloomberg Global Pool, que indicou o ceticismo de 51% dos empresários entrevistados quanto às perspectivas do Brasil. É necessário reconhecer que a taxa básica de juros não é mecanismo suficiente para reverter esse olhar pessimista do mundo. O governo precisa sinalizar com urgência para os investidores que está comprometido firmemente com as reformas estruturais (tributária, previdenciária e trabalhista), com a redução da burocracia e a melhoria da segurança jurídica para o ambiente de negócios.

Em curtíssimo prazo, é decisivo corrigir alguns problemas que estão agravando o desgaste de credibilidade da economia brasileira: o péssimo resultado da balança comercial em 2013; o fator agregado a este do saldo bastante negativo das transações em contas correntes nas operações do Brasil com o exterior; e, sobretudo, as manobras contábeis nos ajustes fiscais do Governo Federal. Tudo isso conspira contra a retomada dos investimentos, o aprofundamento das desconfianças e a favor de um pibinho, inclusive em 2014.

Os distintos setores de atividades têm sentido os efeitos negativos de todos esses problemas. Um sintoma emblemático de suas consequências nos setores produtivos e no chão de fábrica é o exemplo dos números relativos à indústria gráfica no terceiro trimestre de 2013. A produção setorial encolheu 5,4% em relação ao trimestre anterior. Na comparação com o terceiro trimestre de 2012, a queda acumulada é de 9,3%. Com base nessas estatísticas, já revimos a projeção dos resultados para 2013. Até o momento, esperávamos encolhimento de 2,4%. A nova estimativa é de um recuo mais acentuado, 5,6%, em comparação com o exercício anterior.

Remédio amargo já é ruim, mas se engole para ser curado. No entanto, placebo amargo como a Selic alta é absolutamente intolerável!

* Fabio Arruda Mortara é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (ABIGRAF Nacional) e do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (SINDIGRAF) e coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp.